Na tomada de posse como presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro não desapontou ninguém: nem os detratores, que temem pelo braço musculado do governo mais à direita na história do país; nem os apoiantes, que viram no seu discurso de apresentação a encarnação do redentor por que anseiam, essa figura salvífica cuja aura se ilumina pelos ideais conservadores da família e da religião, pelos da justiça pelas próprias mãos e por uma visão ultraliberal da economia.
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Hoje não é o primeiro dia do resto da vida do Brasil, mas é o primeiro dia do que pode ser o resto da vida política de um homem que se diz antissistema mas que dele se alimentou durante 28 anos enquanto parlamentar. E agora, Jair? O que fará o militar na reforma com o poderoso resultado eleitoral que tantos brasileiros atribuíram também a Deus? Até ver, as medidas anunciadas no período de transição não bastam para antever o rumo da nação que perdeu o medo aos militares. Mas as sondagens demonstram que Bolsonaro está no pináculo da lua da mel com os eleitores: 75% apoiam as decisões já conhecidas e 47% acreditam que a taxa de desemprego vai baixar.
Ora, a grande dúvida agora é essa: quando a euforia assentar, e o governo de extrema-direita tiver de passar das palavras aos atos, demonstrará a necessária capacidade de executar e de se comprometer? Mesmo que Jair prometa extirpar a ideologia da política (o que, no seu caso, é um bordão anti-natura), na fase da governação valem os resultados, não os discursos. O sucesso do Brasil é, por isso, e podendo parecer uma lapalissada, a única boia de salvação do novel presidente. A parte má da equação é que quanto mais o Brasil crescer maior será a tolerância dos brasileiros para com o atropelo às regras democráticas. E nisso Bolsonaro tem sido um exímio aprendiz de Trump. Um Brasil mais forte pode ser, paradoxalmente, um Brasil mais fraco.