A Igreja em Portugal deu mais um passo para corrigir comportamentos condenáveis do passado, com a apresentação do relatório da comissão independente, criada para estudar os abusos sexuais na Igreja Católica. É o culminar de uma iniciativa corajosa da Conferência Episcopal Portuguesa. Esta é uma vitória que tem um rosto: o seu presidente, D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima.
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Na fidelidade a Jesus Cristo, a Igreja não deve temer a verdade. Ele recomendou aos seus discípulos: "Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se." (Lc. 12, 1-2).
A apresentação do relatório abre uma nova etapa na luta contra os abusos na Igreja. É doloroso confrontar-se com as atrocidades que se cometeram no seu interior. Mas muito maior foi o sofrimento das vítimas que, durante décadas, foram abusadas. E, ainda pior, muitas vezes, demasiadas vezes, foram silenciadas, desvalorizadas e violentadas novamente ao constatarem a impunidade dos abusadores. A partir de agora, ninguém poderá garantir que esses comportamentos não se repetirão. Mas será muito mais incompreensível qualquer encobrimento e a inação por parte da hierarquia nesses casos.
A comissão independente recebeu muito mais denúncias do que as comissões diocesanas. Estas resultaram de uma imposição do Papa Francisco, mas revelaram-se muito menos eficazes do que se esperava.
Pretender que elas assumam o protagonismo na luta contra quaisquer tipos de abusos - e "dar voz ao silêncio dos mais frágeis", como defendeu D. José Ornelas - talvez não seja a melhor opção. Será mais acertado criar uma segunda comissão nacional independente, na qual as vítimas confiem como na primeira e à qual façam chegar as suas denúncias. Pois serão ainda muitos os que não se fizeram ouvir.
Padre