Nos alvores de um novo ano, seria interessante fazer um prognóstico otimista e confiante para 2023. Não seria, no entanto, um exercício minimamente realista, tal é o nível de incerteza e instabilidade que atravessamos, em resultado dos choques económicos da pandemia e da guerra na Ucrânia, por um lado; mas também de sucessivos erros e crises internas, por outro.
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A face mais visível deste contexto está no aumento generalizado dos preços e na subida das taxas de juro. Longe de serem fenómenos passageiros, são variáveis que vieram para ficar - o BCE perspetiva mais subidas significativas até março deste ano - e com consequências ainda difíceis de prever na totalidade, mas necessariamente exigentes e duradouras. No quadro internacional, vemos múltiplos fatores de perturbação e realinhamentos geopolíticos que ameaçam a ordem mundial estabelecida após a 2.a Guerra. A tendência para o protecionismo, para a conflitualidade e para a tensão entre blocos será cada vez maior, afastando-nos ainda mais de um ideal de paz e prosperidade associadas à globalização.
Perante estes riscos externos, exigia-se uma liderança política consistente, equilibrada, responsável no nosso país. Tanto mais, que foi essa a vontade expressa pela maioria dos portugueses, há menos de um ano. Mas o que temos assistido nos últimos meses, com a catadupa de incidentes que estão a minar a autoridade e a capacidade de intervenção do Governo, é precisamente o inverso do que se pedia, mais se assemelhando à caricatura feita pelo general romano do povo que não se consegue governar, nem deixa que o governem.
Com os desafios que temos à porta, designadamente a execução do PRR e o arranque do PT2030; a que se soma o quadro de instabilidade global, a única certeza que podemos ter é que temos mesmo de fazer diferente. Mais um ano perdido significa comprometer irremediavelmente os anos seguintes e continuar a marcar passo face ao resto da Europa. Exige-se, por isso, que o conformismo dê lugar à ambição. Que o foco tome o lugar da desorientação. Que haja energia em vez de lassidão. Isto se, no final de 2023, não quisermos estar a repetir o fado de que "para o ano é que vai ser".
*Presidente Associação Comercial do Porto