Passos Coelho surpreendeu ao tomar a iniciativa da reunião com o Primeiro-Ministro (PM), permitindo apresentar ao exterior uma imagem de unidade na determinação para enfrentar os desafios que se nos colocam. O país agradece. O encontro teve consequências imediatas. Anteciparam-se algumas medidas que permitirão reduzir a despesa ou, pelo menos, controlar o seu crescimento. É um começo.
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Talvez sejam poucas. Sobretudo porque a nossa "concorrência" não esteve parada. Por imposição externa, os gregos, por iniciativa própria, os espanhóis, a verdade é que ambos tomaram medidas muito duras para disciplinar as contas públicas. E depois? A velocidade a que estamos a correr até pode dar para cortarmos a meta no tempo que nos propusemos. Só que, se os outros correrem mais depressa, é inevitável que façamos a figura do coxo (sem ofensa!) da anedota: por mais que clamemos por um tratamento equitativo, seremos vítimas de um dos leões deste mundo (FMI ou outro qualquer). Nestas circunstâncias, não nos interessa ter o protagonismo por ficarmos para trás. Já que não vamos à frente, mantenhamo-nos no meio do pelotão. O que obriga a estugar o passo.
Mal se percebe, por isso, a insistência na manutenção do calendário dos grandes investimentos públicos. Talvez se possa louvar a convicção. Só que quando tantos, cá dentro e lá fora, colocam reticências, há uma fronteira estreita entre convicção e teimosia, pressa e precipitação.
Vivemos com o mito de que nos falta investimento, sobretudo em grandes projectos. Que nos falta um grande centro, a partir do qual irradiariam efeitos positivos para todo o resto do país. Vai-se a ver e conclui-se que não investimos pouco. Investimos mal. E que a centralização apenas acentuou diferenças. Será que é agora, com estes investimentos, que tudo se vai alterar? O PM argumenta estar já tudo mais do que estudado e que os méritos são evidentes. Só falta mesmo decidir. Pouco interessam as drásticas alterações no contexto. Ou o facto de haver técnicos competentes, muitos sem filiação partidária nem ligações a grupos económicos, que defendem posições distintas que vão do adiamento à anulação pura e simples. Não é preciso. Os estudos são inequívocos. Os argumentos sólidos. Como o do Ministro das Obras Públicas que justificou a construção do novo aeroporto de Lisboa por a Portela não ter tido capacidade para acolher todos os pedidos de utilização do aeroporto durante a erupção do vulcão islandês! O que, como sabemos, ocorre regularmente... E não há outros aeroportos! Mário Lino está perdoado!
Por isso, senhor primeiro-ministro, ganharia se ouvisse e ponderasse outras opiniões. Olhe à sua volta, para os outros países e para quem está com um olho em nós. Como verão a sua determinação? Depois, decida. E esclareça. Não escamoteie os prós e os contras da decisão - há sempre prós e contras - e a forma como os ponderou. Ninguém lhe levará a mal se mudar de opinião. Não ter dúvidas é mais de meio caminho andado para estar errado.