<p>Um mau orçamento do Estado como este não pode responder a uma série de questões que, a manterem-se no caixote dos problemas por resolver, nos hipotecarão ainda mais o futuro.</p>
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A tensão que durou semanas a fio, entremeada por declarações desmesuradas e posições criticáveis de ambas as partes, terminou ontem: depois de horas e horas de conversa, de avanços e de recuos, dois homens de cabelo branco chegaram, finalmente, a uma plataforma de entendimento que acabará, muito provavelmente ainda hoje, com a assinatura de um acordo que viabiliza o Orçamento do Estado para 2011.O país suspirará de alívio. Apenas por momentos, porque o que nos vai verdadeiramente doer chega apenas depois das festas do Ano Novo. Aproveitemos até lá.
Para já, cumpre-nos agradecer aos dois homens de cabelo branco (Eduardo Catroga, pelo PSD, e Teixeira dos Santos, pelo Governo) que se dispuseram a, mirando-se olhos nos olhos, prestar este serviço ao país. Porquê eles? Porque os líderes dos seus partidos foram incapazes de, frente a frente, se porem de acordo. Razões tácticas, umas, e de mercearia eleitoral, outras, impediram um acordo mais cedo. Eles sabem que o país pagou por isso. Melhor: os contribuintes pagaram (também) por isso, sob a forma de juros da dívida.
Ultrapassado este grosso engulho, resta pedir que ele sirva de exemplo para enfrentar o que temos pela frente. Um Orçamento do Estado reconhecidamente mau (sobretudo no que diz respeito aos seus efeitos para o quotidiano de uma ampla maioria dos portugueses) como o que vamos ter no próximo ano talvez não pudesse responder, já, a uma série de questões que, a manterem-se no caixote dos problemas por resolver, nos hipotecarão, ainda mais, o futuro.
Apenas dois exemplos.
É evidente que o actual nível de fiscalidade nos estrangula a todos - e alguma coisa vamos ter que fazer para que a competitividade do nosso país não seja constantemente abalada. Espanha é aqui ao lado. As empresas nacionais sentem-no na pele todos os dias.
E também é evidente que alguma estratégia económica vamos ter que reclamar, sob pena de o crescimento da economia continuar a penar, como tem penado nos últimos anos. Sem isso, é sério o risco de um ciclo vicioso em que défice e falta de crescimento nos atirarão, definitivamente, para o limbo.