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Foi apresentado recentemente, em Vila Real, o estudo “Ecossistema agroalimentar, gestão ativa do território e desenvolvimento regional”, promovido pela CCDR-Norte, IP, e coordenado por Fontainhas Fernandes e Alberto Baptista, envolvendo mais de duas dezenas de investigadores da UTAD e de outras instituições de ensino superior. Existe grande convergência entre os autores do estudo e Arlindo Cunha e Teresa Andresen, responsáveis pela sua análise, no subsequente debate, moderado por Manuel Carvalho.
Portugal é um dos estados-membros com maiores assimetrias na distribuição entre agricultores das ajudas diretas da Política Agrícola Comum (PAC). Tal circunstância deve-se ao menor distanciamento do modelo distributivo da reforma da PAC de 1992 e do histórico de produções, produtividades, áreas ou encabeçamentos que esteve na sua origem, independentemente do ligamento ou do (posterior) desligamento dessas ajudas diretas. Este modelo penaliza sistemas de agricultura de pequenos espaços, de minifúndio, e mais intensivos em mão de obra, como os que caracterizam este setor no Norte de Portugal.
No período de programação 2021-27, cada Estado-membro passou a programar conjuntamente o 1. o (Política de Mercados) e 2.o Pilar (Política de Desenvolvimento Rural) da PAC, através do respetivo Plano Estratégico (PEPAC). Esta alteração permitia o planeamento das políticas públicas mais adequado às especificidades territoriais. Com os ecorregimes (1.oº Pilar), o diagnóstico territorializado dos principais sistemas de agricultura e das suas interações com os respetivos ecossistemas seria imprescindível para se estimarem potenciais efeitos sobre o ambiente dessas políticas públicas.
O Douro é diferente do Alentejo, do Algarve ou da Terra Fria Transmontana. Os agrónomos sabem que as características locais de clima e de solo, as conhecidas condições edafoclimáticas, determinam as possibilidades de produção nesta indústria a céu aberto, tal como os geógrafos sabem quanto as características físicas e humanas do espaço e a relação homem-natureza determinam as possibilidades da história.
Infelizmente, no PEPAC português, prevaleceu o tradicional planeamento setorial. Naquela tarde, na UTAD, a necessidade de regionalizar o PEPAC constituiu uma conclusão que encerra a vontade coletiva de não desistir, de resistir ao tudo mudar para que tudo possa ficar na mesma, parafraseando Tomasi di Lampedusa. É um caminho a percorrer com os agricultores e as entidades que os representam, que dia a dia constroem este setor e este território.