O Tâmega e Sousa (interior do distrito do Porto) e o Ave (cintura industrial no sul do distrito de Braga) "parecem pertencer a outro país".
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O alerta está num estudo da Universidade do Minho para a Associação Comercial do Porto sobre "Assimetrias e Convergência Regional", apresentado em novembro passado, no que foi uma espécie de pontapé de saída para mais uma discussão sobre a regionalização. Nesse outro país, no coração da Região Norte, bem longe do Terreiro do Paço, registam-se índices de escolaridade inferiores à de países como a Colômbia, Irão ou o Botswana, alertam os autores. Um outro país também noutros indicadores. Porque é no Tâmega e Sousa e no Ave que se regista o pior PIB per capita, os salários mais baixos, o menor número de trabalhadores qualificados, a maior dificuldade em captar populações de outras regiões.
Ainda assim, estão ambas entre as zonas do país em que a capacidade produtiva e a internacionalização assumem maior relevo, com destaque para o Ave (o peso das exportações no PIB é de 51%). Para onde flui então a riqueza gerada nesse outro país, seja essa riqueza na forma de índices de escolaridade, distribuição do PIB, salários decentes ou trabalhadores qualificados? Haverá alguém que não saiba a resposta? É verdade que o fosso na distribuição da riqueza entre as regiões diminuiu nos últimos anos. Foi no entanto uma aproximação forçada pela pobreza geral.
Em tempos de abundância (ou que pareçam de abundância, para os que a gastam vai dar ao mesmo), a riqueza escorre sempre para o mesmo ralo. E de quatro em quatro anos, uns meses antes das eleições, lá aparecem alguns afoitos, sobretudo no Norte, sublinhando o óbvio: que a regionalização do país talvez ajudasse a uma distribuição mais equitativa e próxima de recursos escassos. Não costuma dar em nada a discussão, tal é a força centrípeta da capital do império. Mas enfim, talvez água mole em pedra dura...
*Chefe de Redação