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Sempre que morre quem admiramos, e pouco importa se essa relação nasceu na música, no cinema, na literatura ou na televisão, sofremos sempre um pouco. Muitas vezes sofre-se mesmo muito.
É uma condição da natureza humana que me confunde, porque me parece farsola: por que razão havemos de sofrer por perder uma pessoa com quem nunca conversamos, que não faz a mínima ideia de quem somos, nem tão-pouco se interessa pelas nossas dúvidas, problemas ou inquietações? Não sei se será pelo sentido gregário da perda, porque quando desaparece quem muitos conhecem, aproveitam muitos a oportunidade que nasce para se unirem pelo pesar. Ou pelo menos para não serem os únicos que não se manifestaram. Quem fica triste é porque conhece e se conhece faz parte do grupo, que julgam exclusivo, dos que conhecem. Talvez até passe a ser também conhecido.
Estarei a ser injusto. Muita dessa dor é verdadeira, porque os homens e mulheres admiráveis, mesmo que não o saibam ou queiram saber, ajudam-nos a suportar melhor a existência. E por isso julgamos conhecer intimamente as pessoas públicas, quando a intimidade não é, nem nunca poderá ser, coisa pública. Não é fácil aceitar isto, mas os admiráveis não são, nem nunca nos serão verdadeiramente próximos. Acredite em mim: a arte ilude e é a máscara do artista. E a televisão é feita de artistas da ilusão.
JORNALISTA