Quando hoje o presidente da República inaugurar as salas para doentes em todos os internamentos do Hospital de Braga, dificilmente perceberá que se tratou de um trabalho muito simples de executar.
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Quando ouvir falar dos cerca de 300 mil euros destinados à compra de equipamento hospitalar, não calculará o escasso tempo em que esse montante foi reunido. Compreenderá tudo, se recuar até ao seu discurso de 10 de junho de 2016, quando o próprio disse: "Foi sempre o povo a lutar por Portugal". Sobretudo em tempo de adversidade.
Há cerca de dois anos, quando tomei posse como presidente da Liga de Amigos do Hospital de Braga, perseguia-me uma pergunta que quase me fez desistir do desafio: como poderia ajudar, se tenho tanta dificuldade em acompanhar doenças? Falta-me sangue-frio capaz de criar distância emocional para amparar quem sofre. Lembrei-me então de Manuel Sobrinho Simões que, em várias entrevistas, sempre confessou não querer ver doentes, porque partilhava o mesmo sofrimento dos seus pacientes, sentindo, em certos casos, a mesma vontade de chorar. Encontrou espaço para desenvolver a sua vocação médica no campo da investigação. E aí tem rendido (muito). Foi esse caminho alternativa que procurei e agora, em fim de mandato, reconheço que recebi mais ajuda que aquela que dei. Porque bastou lançar desafios. E tudo foi sendo feito, graças à enorme generosidade de muita gente.
Primeiro desafio: criar 17 salas que permitissem a quem está internado sair do quarto e estar mais à-vontade noutro espaço. Em poucos dias, o Sporting de Braga e vários empresários da região uniram-se para suportar esses custos. A mobilização foi impressionante.
Logo nesse tempo, Portugal confinou, abrindo-se uma profunda angústia, sobretudo perante as insuficiências que os hospitais tinham em tão inesperada e galopante pandemia. Os telefonemas e mails iam chegando com manifestações de vontade para ajudar a adquirir mais equipamento hospitalar, principalmente ventiladores. Neste contexto, abriu-se um fundo solidário, gerido por toda a Direção da Liga e pelo próprio hospital. Num ápice, juntaram-se quase 300 mil euros que rapidamente se traduziram em equipamento já adquirido.
"O povo, sempre o povo, a lutar por Portugal", disse em 2016 o presidente da República em pleno Terreiro do Paço, em dia de Portugal. Hoje, quando visitar o Hospital de Braga, poderei dizer-lhe: "Senhor presidente, o povo de que tanto fala, é gente concreta. Nestas salas e nestes equipamentos, está aqui esse povo que, em escassos meses, se uniu em prol da saúde de todos". É uma grande lição em tempo de pandemia.
*Prof. associada com Agregação da UMinho