Bem pode o Parlamento Europeu querer aproveitar o Mundial da bola para "condenar as violações dos direitos humanos na Rússia". No campeonato da moral, porém, a União Europeia perde por falta de comparência.
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O exemplo mais flagrante é o da completa falta de uma política comum para enfrentar a crise migratória e de refugiados. Pior: ao fracasso de todas as soluções até agora adotadas, incluída a vergonhosa subcontratação da Turquia como agente recetador, junta-se o crescimento de forças hostis aos imigrantes. Depois da Polónia, da Hungria e da República Checa, é inquietante que em países como Itália, Áustria e Grécia tenham tomado o comando das políticas migratórias partidos que chegaram ao Governo com mensagens xenófobas. Pior ainda, a circunstância de os países mais incumpridores estarem entre os que mais recebem do orçamento comunitário. Está feita, pois, a agenda do próximo Conselho Europeu, de 28 e 29, quando os chefes de Estado e de Governo da União voltarem a reunir-se, em Bruxelas.
Em quase uma década de crise, a burocrática e insensível resposta europeia à crise migratória é digna de figurar nos anais da ignomínia. Do inferno da Síria ao colapso de vários estados no Médio Oriente e na África subsariana, a mão estendida dos milhões que fogem à guerra, à fome e à miséria continua a embater na fria desumanidade de uma Europa que deixou transformar o Mediterrâneo na vala comum de muitos milhares de humanos. E ainda há cadáveres a dar à praia. O gesto do Governo espanhol, que hoje mesmo acolhe em Valência os 629 africanos enxotados de Malta e da Itália, não é a solução. É apenas um apelo à decência europeia perante a indiferença generalizada. É preciso que alguém fale grosso em Bruxelas. Ao menos para dizer a alguns dos chefes de turno que não se pode querer estar na Europa pelos benefícios e recusar a repartição de custos.
* DIRETOR