Foi quente este primeiro agosto de Rui Moreira na Câmara do Porto. A contrastar com a timidez da meteorologia. Primeiro, foi o caso do vereador cujo despedimento se concretizou apenas nas páginas dos jornais. Depois, as suspeitas sobre o negócio do Aleixo e respetivas denúncias ao Ministério Público, que também nunca passaram das páginas de jornais. Não porque as desconfianças e ameaças de rutura não tenham existido, mas porque, entre a conspiração nos corredores, as fugas de informação para os jornais e, de novo, o corte e costura dos gabinetes camarários e partidários, as traições, dúvidas e ameaças, se foram dissipando. Impôs--se o pragmatismo. E a vida segue como dantes. Seguirá?
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Já se tinha percebido que Moreira não é verdadeiramente independente. Não está em causa a sua independência pessoal ou o seu estatuto de político sem vínculo legal a um partido. Antes o facto de não ser tão independente do mundo partidário como gosta de realçar. E se o resultado das eleições e deste primeiro ano de mandato comprovaram alguma coisa foi precisamente que o presidente independente está dependente dos partidos. No plural. Desde logo, dos que o apoiaram, de modo formal (CDS) ou informal (PSD de Rui Rio). Depois, do PS, com quem se viu obrigado a constituir coligação.
Quando tudo indicava que o tempo corria morno - à parte expectáveis ciumeiras sobre haver CDS a mais, ou acusações de que o PS usurpou nos bastidores o que perdeu nas urnas -, a corda partiu com os mais próximos. Primeiro, com o vereador do CDS Manuel Sampaio Pimentel, demitido de forma praticamente irrevogável na praça pública, mas logo reintegrado. Depois, com as desconfianças "objetivamente" manifestadas sobre o negócio do Bairro do Aleixo. No entanto, se o primeiro episódio é mais do domínio da politiquice, o segundo pode ser um verdadeiro quebra-cabeças. Porque quem fica em causa é um peso pesado como Rui Rio. Esse mesmo, o mais importante patrocinador da candidatura de Rui Moreira. E putativo candidato a líder do PSD, a primeiro-ministro e até a presidente da República.
Bem pode Moreira dizer agora que nunca esteve em causa a suspeita de "dolo" e que "ainda não se colocou" (e note--se o ainda) a hipótese de recorrer ao Ministério Público. Ou acrescentar que uma auditoria é um procedimento normal. Seria, se da sua equipa de "independentes" não fizessem parte vereadores que estiveram com Rui Rio no desenho do processo. Seria, se o Bairro do Aleixo não fosse uma das joias da coroa de Rui Rio. Os esclarecimentos dos vereadores não são suficientes? Mais ainda, os esclarecimentos que certamente Rui Rio não lhe recusaria não são suficientes? Ou será que ainda não os pediu?