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Portugal vive uma situação política única e rara. Um verdadeiro 3 em 9.
Com eleições presidenciais em janeiro de 2026, o país vivia surpreendido pelo facto dessa disputa ter começado quase um ano antes, numa antecipação artificial motivada pela vantagem de um candidato que ainda não o é mas vai ser, e por outro candidato que já o é há muito tempo e decidiu seguir já para o terreno em campanha, antes que seja tarde.
As eleições autárquicas, que vão acontecer no final de setembro ou no início de outubro, seguiam o seu caminho normal, com as decisões e as apresentações dos candidatos por todo o país, num processo que é muito importante para as freguesias, os municípios e para a vida dos portugueses.
E eis senão quando, antes dessas duas eleições e sem que fosse previsível, Luís Montenegro, o Governo e os partidos da Oposição decidem contra a sua própria vontade levar o país para uma eleição legislativa antecipada, ofuscando desde já os outros dois processos eleitorais que estavam em intenso desenvolvimento.
Em 9 meses, de maio de 2025 a janeiro de 2026, os portugueses são chamados três vezes a eleições, num processo arriscado na capacidade de chamar a atenção e de mobilizar os eleitores. E se essa atenção tem a lógica da normalidade do calendário no que respeita às autárquicas e às presidenciais, a artificialidade das legislativas pode ter na abstenção um fator negativo e perturbador, no que respeita às definições sobre o futuro do processo político de uma legislatura interrompida por motivos de difícil compreensão para todos e que ninguém antevia.
Como podem os partidos políticos sair de uma discussão sobre o caráter de Luís Montenegro, e as eventuais incompatibilidades entre a sua vida pessoal e profissional e a sua condição de primeiro-ministro, que cada vez mais não mobiliza as atenções, para partir para a apresentação e a discussão das propostas políticas para o futuro do país, mesmo que repetindo uma intensa campanha eleitoral que aconteceu há pouco mais de um ano?
Seguramente que o PSD e a Aliança Democrática levam vantagem nessa disputa de argumentos, até porque o balanço global da governação do quase primeiro ano de governação é claramente positivo, e não se tem essa noção de balanço positivo sobre a performance da oposição, nem do PS nem do Chega.
Alerta Portugal: 3 eleições em 9 meses é uma operação exigente, mas a vitalidade da democracia portuguesa e a importância das decisões que temos para tomar nesses três momentos são mesmo muito importantes e exigem a atenção e a mobilização de todos.