Os mais novos têm medo de ter filhos, medo de se afogar nos quartos. Alguns não têm comida. Outros têm sede. Uns fogem, outros lidam com tempestades, ciclones e incêndios florestais. Ontem protestaram. Fecharam escolas. Alguém os pode condenar?
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Tristes, ansiosos, zangados, impotentes, desamparados e culpados. É assim que se sentem os jovens. Quatro em cada dez hesitam em ter filhos. Seis em cada dez estão extremamente preocupados. Três quartos temem um futuro assustador. Metade está ansiosa. Há quem tenha medo de se afogar no próprio quarto.
O retrato foi publicado em setembro de 2021 no estudo "Vozes dos jovens sobre a ansiedade climática, traição governamental e lesões morais: um fenómeno global". Antes da conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas (COP26) que se realizou em Glasgow. O documento constituiu o maior estudo científico feito até então sobre a ansiedade climática e os jovens. Resultou em muito pouco. Quase nada. Tal e qual a COP26, considerada um fracasso por uma grande parte de especialistas em ambiente.
Pouco mudou. E o que muda, muda devagar. Como não se alteraram as preocupações dos mais novos. Um outro estudo publicado já este ano pela Unicef demonstra-o. Metade dos jovens africanos afirma ter reconsiderado ter filhos por causa das mudanças climáticas. 60% ponderam abandonar a cidade ou o país pelo mesmo motivo. 20% relatam dificuldades no acesso à água. 40% têm menos comida no prato.
As gerações mais velhas falharam. Os governos falharam. Os governos continuam a falhar.
Ontem centenas de estudantes ocuparam escolas e faculdades, em Lisboa, para exigir o fim dos combustíveis fósseis até 2030. O diretor da Escola António Arroio optou por não chamar as autoridades para desmobilizar os alunos. Diz que nunca estará contra quem quer um Mundo melhor e que, mesmo sem aulas, espera que os estudantes aprendam alguma coisa com esta ação. Ninguém os pode condenar.
Diretor-adjunto