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Fernando Alexandre é um respeitável académico. A sua vida profissional tem sido discreta, mas ativa. Dá toda a ideia de que o ministro da Educação desejou para si o sonho e a concretização, a teoria e a prática, pensar os ingredientes e pôr as mãos na massa. O trabalho de avaliação que fez sobre os custos de um novo aeroporto, assim como a sua passagem, como secretário de Estado, pelo Governo de Passos Coelho, não o macularam ou o obrigaram a ter cadastro mediático, pelo contrário. É por isso com espanto que constato que o exercício da política, com a inevitável pressão associada, não é para todos. Muitos acabam por se perder, por deixar de ser o que eram antes de ter poder, começam a dizer coisas um pouco fora da lógica ou ameaçam incendiar Roma quando antes condenavam pirómanos à forca. Leio duas, três, dez vezes o que afirmou sobre a respeitabilidade dos professores: "Alguém que anda em manifestações" perde a aura de credibilidade. Fica subentendido que alunos, colegas que não se distraem com palavras de ordem, pais, auxiliares e opinião pública passam a vê-los com menos respeito. Não seria necessário explicar que a expressão pertence à família das que definem párias e indigentes. Alguém que anda na passa, alguém que anda no ataque, alguém que anda a gamar, alguém que anda em manifestações... Caro professor Fernando Alexandre, senhor ministro, não se perca em maluqueiras retóricas para as quais não tem ponta de talento. O senhor não é assim, não precisa de o fazer. Ou se o é, confesso, enganou-me bem.