Portugal tem graves problemas por debelar mas um deles ninguém o denunciou até hoje: há um vírus a afectar os cérebros dos responsáveis pela governança da Economia e das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. Nos últimos anos os ministros responsáveis por estas pastas têm sido, de facto, marcados pela tontice, potenciadora da galhofa geral. Nada de bom augúrio...
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Volta-se o filme atrás e qual é o registo?
Primeiro Governo de José Sócrates.
Manuel Pinho era o ministro da Economia e graças a ele os portugueses tiveram direito a momentos hilariantes. Pinho era um bem--disposto. E até ao dia em que fez uma chinfrineira na Assembleia da República apontando uns chifres na direcção do deputado Bernardino Soares e o Primeiro o demitiu, Manuel Pinho foi campeão do disparate. "A crise acabou!", disse ele solenemente em Outubro de 2006, baseado em híbridos números de anémica e pontual recuperação. E tão famosa como essa frase ficaram outras. Como a de, em Pequim, "aconselhar" 300 empresários chineses a investir em Portugal por poderem dispor de mão--de-obra barata; ou revelar numa feira de calçado de Milão, com a presença de industriais portugueses, deslocar-se a Itália para comprar sapatos... italianos.
Célebre ficou também no mesmo Governo o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. "Jamais!", perdão, Mário Lino, entrou no anedotário nacional pelas disputas sobre a localização do novo aeroporto para a capital. Defendeu a Ota contra tudo e contra todos, e acabou vergado pela solução de Alcochete, a sul do Tejo - "um deserto", disse ele. Todo um must...
E se o sucessor de Pinho na Economia foi dormente (Vieira da Silva), já o de Mário Lino seguiu-lhe a onda no segundo Governo do senhor engenheiro. António Mendonça também foi atacado pelo tal vírus. Defensor enérgico do TGV, como o chefe, ficou célebre a tese de que graças a ele "Lisboa e a zona em redor será provavelmente a praia de Madrid" (ah! ah! ah!). E se no Congresso das Comunicações, já neste ano, repetiu a leitura de 18 páginas de um discurso que horas antes tinha sido lido por um seu secretário de Estado (Paulo Campos) perante mesmíssima plateia, só mesmo um crânio iluminado poderia manter numa Comissão da Assembleia da República a defesa de investimentos de 12 mil milhões para o período de 2010-2015 quando o país já estava com uma mão à frente e outra atrás - e em vésperas de pedir ajuda internacional. Era uma festa de obras anunciadas, para o sector portuário, aeroportuário, rodoviário, ferroviário...
E a onda das gafes não tem fim.
Passos Coelho optou em Junho por um Governo curto e criou um superministério onde cabem a Economia, as Obras Públicas, os Transportes e as Comunicações. Agregou áreas afectadas pelo tal vírus do disparate há vários anos. E a que se assiste?
O vírus está activo e agora vitima o Álvaro, perdão, o ministro Álvaro Santos Pereira. Retirado do conforto académico no Canadá, pôs-se a jeito. E o vírus atacou-o. E só por isso, quando o país vive em recessão, é admissível ter ontem gerado uma onda de choque, ao afirmar que "2012 será o princípio do fim da crise" (versão benevolente em correcção a primeira afirmação, mais taxativa). É que ninguém acredita.
A tontice anda à solta. Haja alguém que investigue a origem do mal e o combata!