João Pedro Matos Fernandes, até aqui presidente do Porto de Leixões, emigra dentro de dias do Porto para o Maputo. Falei com ele apenas duas vezes ao longo destes anos. O João Pedro foi posto à frente do Porto de Leixões pelos socialistas. Ainda assim, o facto de ter obtido os melhores resultados desta estrutura essencialíssima para o Norte deveria obrigar o Governo a estimular a sua continuidade.
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Foi isso que aconteceu? Obviamente, não. Fizeram-lhe a cama na mesma. As figuras da grande esfera do "Estado" não têm tempo para problemas como "Leixões"... Álvaro, em matéria de nomeações parece um holograma, nada. "O que conta é o modelo de gestão, não as pessoas", disse o nosso guru de Vancouver. As decisões sobre quem lidera podem então ficar à espera...
De quem? De Relvas. Exatamente. Os 36 secretários de Estado despacham ao ritmo do 'Richelieu' de Passos. É com ele que se jogam as coisas da vida prática. Regulamentos. Portarias. Nomeações. Dinheiro para estes, cortes para aqueles. Passos mendiga de chapéu estendido pelo Mundo. Cá, o país fica entregue ao número dois cuja função é a de pôr as coisas a mexer - e se ele secretamente bloqueia, Portugal arrasta-se.
O problema da falta de decisões e novos nomes para o Porto de Leixões, Metro do Porto e STCP (empresas com gestores demissionários) é prosaico: pertencem ao ministério de Álvaro mas ele não conhece a malta das febras e sardinha assada do PSD. Obviamente não pode ser ele a nomear gente - que ainda se engana e nomeia um independente com currículo. Onde está Relvas? Onde?
Entretanto, o Porto de Leixões tem um projeto de investimento de 160 milhões de euros para duplicar a capacidade do terminal de contentores e permitir maiores navios. O que faz o Governo? Deixa Leixões à espera que cheguem os próximos laranjinhas colocados na nova "holding" portuária preparada para gerir o país a partir das eternas economias de escala obtidas pela concentração de tudo na capital.
Quando a perfeição da "holding" portuária fundir os portos numa amálgama - sendo depois empresas sem dono nem responsabilidade, controladas à distância num qualquer gabinete central - , nessa altura lá virá então o Álvaro (com Relvas?) e os novos gestores portuários "ao Norte", em esforço e com pressa, anunciarem numa conferência de Imprensa com pompa e muita televisão "em pleno Norte" que, agora, vai haver investimento no "Norte" porque "o Norte exportador" é a coisa mais importante no Mundo. Talvez até haja lugar a um beberete com gente aprumada e obediente - já chegou o sr. ministro, vêm recebê-lo à porta, bela gravata, aplaudem, sorriem, abanam a cabeça e sussurram uma urgência, ai que a sessão termina e não o apanho à porta, talvez um cumprimento a avisar do mail. SMS não! E então os representantes máximos do Estado entram nos BMW do Governo com aparato, saem a grande velocidade e nunca mais voltam - até ao dia da inauguração.
Pois é. O agora demissionário presidente de Leixões, Matos Fernandes, decidiu ir à vida dele em vez de ficar à espera da esmola de ser n.º 2, ou n.º 4, ou apenas o capataz "do Norte". Vai trabalhar numa concessionária portuária da capital moçambicana, de capitais locais. Tem vida e deixa Portugal porque, por cá, pelos vistos, não há lugar para gente nos portos (e em quase tudo o resto) sem cartão da cor do Governo da ocasião. Laranjina? Ta-ra-ta-ra-ra-ra-ta-ta... Laranjina C.
P.S.: Luís Filipe Meneses vestiu o fato de bombeiro deste Governo. Dura missão. Está sempre a saltar do quartel para apagar fogos reais e imaginários de cada vez que ouve uma sirene nos média. Desta vez convenceu-se que podia apagar o incêndio Relvas com umas singelas frases às rádios e televisões. É um equívoco brutal mas põe a nu um medo estranho: já toda a gente sabe que é Relvas quem lhe garante a candidatura à Câmara do Porto (o PSD está muito dividido sobre os autarcas poderem ou não fazer novos mandatos noutras autarquias...). Mas seja no Porto, na Área Metropolitana ou num qualquer outro lugar, Menezes é um ativo que vale por si próprio. Ou afinal também tem de andar no beija-mão? Quando acha que Relvas é essencial lembra-nos o caciquismo indecoroso do PSD-Porto. Velhos tempos?