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O ministro da Economia foi ontem alvo da ira de um conjunto de pessoas que o esperaram à saída do Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã. A manifestação teve o dedo da União de Sindicatos de Castelo Branco, afeta à CGTP. Como se sabe, o PCP não brinca em serviço, quando toca a fazer estardalhaço para as televisões filmarem e os jornais reportarem. Por isso, a coisa aqueceu. E o ministro saiu da Covilhã a acelerar, antes que a situação se descontrolasse.
Em declarações posteriores, Álvaro Santos Pereira consideraria "legítima" a manifestação, desvalorizando-a com a habitual lenga-lenga sobre a importância do diálogo social. A manifestação é legítima, mas o cerco quelhe foi montado não é. A democracia não legitima o insulto e a arruaça. Convinha que o ministro percebesse isso e disesse isso, sob pena de um destes dias sofrer na pele os feitos de uma manifestação maior e mais descontrolada do que aquela.
A verdade é que Álvaro Santos Pereira pôs-se a jeito. Com ar de intrépido teenager, foi de encontro a alguns manifestantes, à espera de com eles entabular uma frutífera conversa com explicações sobre o sol que ha de chegar, depois de os mercados e a troika entenderem o que anda o Governo a fazer. O ministro esqueceu-se de algo essencial: o que tinha à frente já não era um grupo insuflado por palavras de ordem, mas sim pessoas desesperadas com o presente e receosas do futuro. O indivíduo que se estendeu em cima do carro que transportava o ministro não o fez por a ação estar prevista no cardápio da manifestação. Fê-lo com os olhos carregados de raiva, muito provavelmente por não conseguir, como milhares de outros portugueses, viver um dia sem fazer contas ao que sobra até ao final do mês.
É preciso ouvir Álvaro Santos Pereira falar para uma plateia para perceber que aquilo que parece timidez e incapacidade de comunicar é, na realidade, sobranceria. Estamos perante o ministro mais tenrinho e dos politicamente mais inábeis deste Governo, mas que é, ao mesmo tempo, aquele que tem de si mesmo uma brilhante ideia. Há um lado narcísico na forma como o professor universitário feito governante se dirige a quem o ouve. Ele acha, sinceramente, que lhe colocaram nas mãos a salvação de Portugal. E, pior do que isso, vê-se como o verdadeiro salvador.
Ou seja: quando o ministro se dirigiu aos protestantes na Covilhã, fê-lo com a convicção dos imaturos - e a imaturidade, na política, não se recomenda. Álvaro quis mostrar que não tem medo, que é capaz de enfrentar o perigo, venha ele de onde vier. Fê-lo com a convicção de que desarmaria num instante os descontentes, recorrendo a dois ou três argumentos de pacotilha. A coisa saiu-lhe pela culatra, porque para acalmar a ira dos desesperos não bastam falinhas mansas.