Ambiente ou empregos? Um falso dilema
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Durante demasiado tempo, o debate sobre políticas ambientais tem sido aprisionado por um dilema redutor: ou protegemos o ambiente, ou garantimos os empregos. Esta falsa dicotomia não só ilude, mas também enfraquece a ação política. Ao colocar as alterações climáticas e a proteção do emprego em campos antagónicos, alimenta-se o medo social, perpetuando a ideia de que o progresso ecológico é um luxo que as economias não podem suportar.
É um facto que políticas ambientais exigentes podem provocar mudanças substanciais em determinados setores económicos. Indústrias poluentes, profundamente enraizadas em várias regiões, são chamadas a reinventar-se ou reduzir a sua atividade. Nestes contextos, não é difícil entender que trabalhadores e comunidades encarem com ceticismo medidas que afetam equilíbrios laborais já frágeis. No entanto, essa apreensão, legítima, acaba por ser manipulada por forças que, na realidade, não têm como prioridade nem o ambiente nem os trabalhadores. O discurso de que as políticas climáticas "destroem empregos" tornou-se uma poderosa, mas simplista, arma política.
A realidade é, porém, mais complexa. Os efeitos sociais de uma política climática não estão necessariamente ligados à sua ambição ambiental, mas sim à forma como é implementada e acompanhada. Quando se aplicam medidas sem compensações adequadas, ou quando se fecha uma porta sem abrir outra, o impacto negativo sobre o emprego torna-se real e visível. No entanto, ao investir em requalificação profissional, diversificação económica e criação de novas oportunidades nos setores verdes, é possível transformar uma ameaça numa transição justa.
Colocar a questão como uma oposição entre ambiente e emprego ignora que a inação climática gera custos económicos e sociais imensos. A destruição provocada por fenómenos climáticos extremos e a instabilidade económica gerada pelo declínio dos recursos naturais afetam diretamente o emprego - particularmente entre os mais vulneráveis. Logo, proteger o ambiente é, também, proteger os empregos do amanhã.
Portanto, mais do que uma falsa escolha entre proteger o planeta ou garantir os empregos, o que realmente precisamos é de coragem política, inteligência estratégica e um compromisso social firme. A verdadeira questão está em garantir que a transição seja feita de forma justa, equitativa e sustentável. Porque a transição acontecerá de qualquer forma; a justiça com que for feita, essa, sim, exige visão, vontade e responsabilidade política.