O júri do World Press Photo escolheu a fotografia do ano com polémica e com votos contra: para uns, é a celebração do terror; para outros, a concretização perfeita do melhor fotojornalismo.
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O debate não é novo, antes é tão velha quanto o tempo, esta discussão sobre se esconder acontecimentos é o melhor historicamente para todos ou melhor para a narrativa circunstancialmente dominante. Ainda que hoje as imagens parecem ser o Mundo todo e todo o Mundo apenas uma sucessão de imagens, já sabemos que são polissémicas. Barthes chegou até a proclamar a morte do autor: os significados de uma imagem são criados pelos recetores, independentemente da intenção de quem as produz. Vejam, Frank Capra e Leni Riefenstahl chegaram a usar a mesmas imagens em filmes de propaganda de guerra de objetivos totalmente opostos.
É realmente difícil escapar a esta foto e ao seu punctum barthesiano que nos fere o coração, aquele esgar temível, que nos deixa inquietos e de algum modo incapazes.
O Mundo é um lugar de terrível crueldade e pouco fará escondê-la. Há, claro, quem tenha usado a foto para o Mal. E o jornalismo não deve ser ingénuo e tem de ser sempre ponderado. Mas também não pode ficar ignorante, por muito que isso (nos) custe. E custa muito. A melhor fotografia do ano é também a pior fotografia do ano.
* JORNALISTA