Dir-se-ia que por ser um filho há bem mais de três décadas, estaria muito melhor equipado para saber mais do que é ser um pai. Estive sempre perto dos meus, conheço bastantes outros pais e ainda mais outros filhos, mas nada disso me serviu na hora, naquele segundo, em que a segurei aqui, com a razão a falhar-me e as mãos mesmo assim firmes, para meu espanto, eu que sou incapaz de desenhar uma linha direita e, pior, um famoso desastrado.
Corpo do artigo
Compreendi pelo menos o "Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo", como escreveu a Sophia e me tinha ensinado a mãe dela, embora para mim esse sítio frágil irei ser sempre eu, eternamente perseguido pela imperturbável incerteza sobre como saber ser melhor - e o melhor que sei será sempre pouco.
Aprendi já, como um soco, que se tudo for como suposto já não estarei cá para lhe ver tudo, para lhe saber tudo, como agora, nestes gloriosos dias feitos de pequenas e pelejadas vitórias, que vamos escrevendo no peito e guardando nas estantes, ao lado dos nossos livros. Ambos, o peito e os livros, são registo de memórias, o sítio certo onde ficarem apontados estes tempos puros de felicidade prudente. Mas pelo menos sei, minha filha, que mesmo quando fores do tamanho do Mundo vais caber sempre aqui, na palma da minha firme mão, exatamente como naquele segundo em que começaste a fugir-me.