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Trazes a nossa casa na voz e é a tua voz constante que se ouve nestas paredes que vamos fazendo subir, uma comoção de cada vez.
Repara bem nisto: nós somos como se não houvesse gravidade, emaranhados um no outro, e mesmo quando o chão nos falta encontramos sempre uma forma de levitação. É hipótese possível que seja apenas o amor, mas o amor apenas parece-me pouco para explicar esta bizarra construção por onde vamos subindo e trocando memória por pedra gravada, euforia após desalento.
Digo bizarra porque me parecia impossível. Eu, demasiado agarrado ao meu mundo. Tu, a segurar o Mundo nas tuas mãos - que te importava eu? Provavelmente pouco, seguramente agora mais, mais do que o amor, porque o amor é pouco. É arrepio também, o bom carrega sempre o medo nas costas, e quem levita também aprendeu sobre Newton e outras leis imutáveis. Tu sabes: não estamos à deriva. Andamos a voar e todas as manhãs têm um esboço enunciado por ti.
Não me cansarei nunca da tua voz e há ainda muita parede para erguer nesta casa, no meu peito, até que chegue o dia triste em que o respirar esmorece.
*Jornalista