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A AMNÉSIA é um problema que pode afetar qualquer um, mas tem uma taxa de incidência particularmente elevada nos que têm de responder em público por escândalos em que se envolveram. Disse Dias Loureiro sobre o caso BPN: "Não me lembro dos contratos, posso ter assinado, se vocês o dizem, mas não tenho memória". Zeinal Bava, na comissão de inquérito do BES: "Não vou dizer que foi fulano, sicrano ou beltrano, não me recordo". Ângelo Correia, sobre o seu nome estar nos "Panama Papers", não se recordava desse offshore: "Trabalhei para muita gente e pode ter sido que me tenham nomeado para essa empresa e eu tenha assinado". A falta de memória de Ângelo Correia não é uma novidade. Em 2010, disse na SIC que "direitos adquiridos são os direitos como o direito à vida e à liberdade", e não os "decorrentes da economia. [Estes] só são adquiridos enquanto a economia for sólida". Por isso, disse, são uma "burla". Um ano depois, já se tinha esquecido disto. Disse à Antena 1 que não concordava com perder a sua subvenção vitalícia do Estado, porque era um "direito adquirido", mesmo em cenário de grave crise económica. Para além de ter resgatado Passos Coelho do esquecimento político a que estava destinado, coisa que não o recomenda especialmente, não me lembro o que terá feito pelo país Ângelo Correia. Ainda assim, dias depois de ter confessado que não se lembra do que assina, coisa que não recomenda ninguém, teve direito a estar na TV a dissertar sobre os destinos da pátria. Já não há memória?