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O "erro processual", como lhe chamou Luís Montenegro, que permitiu que três aviões norte-americanos com destino a Israel (para serem vendidos), fizessem escala na Base das Lages, na ilha Terceira, sem que ninguém soubesse, é muito mais do que uma trapalhada política entre gabinetes. Porque configura uma posição contraditória da diplomacia portuguesa relativamente à intervenção de Israel em Gaza, mesmo que por omissão, como parece ser o caso. Por um lado, condenamos o ataque massivo de Telavive e reconhecemos o Estado palestiniano; por outro, nem sequer fomos informados de que material de guerra exportado para Israel teve o território português como ponto de passagem. Algo que, por mais desculpas que Paulo Rangel encontre, significa efetivamente uma anuência a uma estratégia beligerante que, aparentemente, não subscrevemos. Basta, de resto, olhar para a vizinha Espanha para percebermos a nossa ingenuidade: Madrid "fechou as portas" de duas bases à passagem de material de guerra israelita.
Naturalmente que a Oposição está a aproveitar a boleia dos F-35 para explorar as contradições no Governo e exigir cabeças (afinal, o Ministério da Defesa sabia e não avisou o MNE?), mas depois do que se passou em junho, com a escala de 12 aviões reabastecedores na Base das Lajes, eventualmente relacionados com o ataque de Israel ao Irão, já era tempo de termos organizado os procedimentos. É embaraçoso concluir que os Estados Unidos fizeram pousar, abastecer e levantar três caças de última geração no pináculo de um conflito sangrento sem que as autoridades portuguesas dessem por nada. E, já agora, também ficamos sem saber como teria respondido o Governo se tivesse tido conhecimento. Neste caso, o protocolo militar diz que uma não resposta resulta numa anuência. O povo é mais prosaico: quem cala consente.