A seis dias de sabermos quem será o primeiro-ministro que carregará nas costas um dos mais pesados fardos da história de uma nação valente e imortal, há ainda uma quantidade não despicienda de puros que estão tristes com o modo como decorre a campanha eleitoral. São os mesmos que, com espantosa ingenuidade, vêem os actos eleitorais como tempos de elevadas discussões políticas sobre o passado, o presente e o futuro da nossa enrugada pátria. Ora, se os líderes partidários e restantes actores que gravitam em torno das campanhas eleitorais não estão minimamente interessados nesse tipo de aborrecimento, não se vê uma só razão para mudarem agora de gosto.
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Em boa verdade, o carácter excepcional destas eleições apenas aconselhava, mais do que nunca, moderação na expectativa. Porquê? Porque, excluindo o Bloco de Esquerda e o PCP (que, em função do grau zero de comprometimento com uma solução exequível para o país, têm a sorte de poder dizer tudo o que lhes vai na alma), os partidos do pomposamente intitulado "arco da governação" sabem de ciência certa que todas as promessas para lá do que está estabelecido no memorando de entendimento com a troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) servirão, mais cedo do que tarde, de arma de arremesso a quem fique fora do Governo. De modo que mais vale ser astuto no "sound- -byte" do que corajoso nas propostas e promessas.
É por isso que temos apenas assistido ao habitual: pequenos casos de campanha transformados em grandes casos de campanha; ataques políticos lidos como ataques pessoais; frases feitas ditas com a mesma voz grossa de há quatro ou oito anos; beijinhos a idosos e crianças; muita carne assada e vinho carrascão a encher as goelas do povo... Quem se lembrar de uma discussão que tenha ido além do habitual xarivari que levante o dedo!
O que podemos desejar, perante este incontornável estado de coisas? Que termine rápido. As (duras) baias impostas pelo acordo com a troika impõem que o próximo Governo comece a decidir e a actuar o mais depressa possível. As medidas que, com a ajuda dos deuses, nos tirarão do desarranjo económico e financeiro em que nos metemos não são compagináveis com o amolecimento. Como isto anda tudo ligado, a Grécia e a Irlanda estão aí para nos lembrar que, finda a festa, há um mar de dificuldades para ultrapassar. Caso contrário, um destes dias os mercados voltam a mostrar os dentes e a recusar--nos financiamento. Não queiramos lá chegar!