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Vai começar a oficialmente a campanha para as autárquicas. De um modo geral, já todos escutámos os candidatos a juntas de freguesia a prometer mais recolhas do lixo e remoção de ervas no cemitério e os candidatos a presidentes de Câmara a assumir o compromisso ousado de fazer mais coisas boas e menos coisas más porque a crise da habitação e tal. Espero que agora seja a parte em que as várias candidaturas se dedicam a concretizar propostas e a esclarecer o eleitorado porque a esta altura as redes sociais de qualquer candidato parecem aquela série de livros infantis da Anita. Eles já foram à feira mostrar que sabem falar descontraidamente com o povão, já foram ao restaurante comer pratos típicos, mesmo que se agoniem com o cheiro a bedum, já dançaram músicas tradicionais e rezaram para que não lhes estragasse o algoritmo do Spotify e acima de tudo já se assumiram todos como adeptos fervorosos do clube de futebol lá da terra, mesmo que passem o jogo a torcer pelo adversário porque não sabem bem distinguir os equipamentos.
Enfim. Isto é a vida de um candidato autárquico de um partido normal. Mas não se for do partido de extrema-direita. Não, senhor. Estes candidatos locais já foram à feira, mas para o André Ventura mostrar que sabe falar descontraidamente com o povão, enquanto eles têm o privilégio de aparecer ali ao lado. É ligeiramente diferente. Mesmo nos cartazes, há fotografias em que o André Ventura aparece à frente do candidato local e se eu suspeito que ele nunca meteu um pé em Trancoso quanto mais na freguesia de Fiães. Todos os deputados do Chega são cabeças de lista a estas eleições e se até nessas candidaturas está lá a cara do André, não há de estar no cartaz de um Armindo Bezerra candidato à assembleia municipal. É de tal maneira que devia até mudar o nome para André Ventosa porque se cola em tudo.
É que dá mesmo a ideia que o líder do partido de extrema-direita quer ser candidato autárquico, não é? Mas não. É que, há quatro anos, André Ventura foi eleito deputado municipal no concelho de Moura e esta semana fizeram-se as contas e comprovou-se que, em quatro anos, meteu lá os pés duas vezes. E a segunda deve ter sido porque acabou-se-lhe o azeite. Isto não é bom sinal. Faz tanta campanha contra os imigrantes e assim que ganha Moura, borrifa-se. E já em 2018, quando foi eleito vereador pelo PSD em Loures, depois de uma campanha aguerrida onde se fartou de pedir o voto de confiança da população, André Ventura renunciou. Eu também já fui de pedinchar brinquedos novos para depois os meter logo para um canto, mas depois fiz onze anos.
Nas últimas autárquicas, André Ventura quis ser presidente da Câmara, nas legislativas, André Ventura quis ser primeiro-ministro, agora quer ser presidente da República. É possível que ainda vá a tempo das eleições para delegado de turma da C+S da Ramada. Parece pouco sério, mas mesmo assim há cada vez mais pessoas convencidas por isto, como se estivessem convencidas a ajudar o menino a concretizar os seus sonhos. Até a Make-A-Wish Foundation tem critérios mais rigorosos. E ele está em todo o lado. Aqui, nas redes sociais, nos cartazes, na televisão. Ele é convidado para tantas entrevistas que começo a achar que mais do que um líder partidário, André Ventura é um dot. Está sempre no ecrã, mantém as pessoas ligadas e é uma questão de tempo até todos perceberem que é uma fraude.