Corpo do artigo
1. É uma tática usada com sucesso pelos produtores de séries de televisão: quando os personagens secundários de uma trama revelam potencial, faz-se um "spin-off", ou seja, cria-se uma outra série a partir da história original. No fundo, os produtores não fazem mais do que rentabilizar o seu produto. Que é afinal o que PSD e CDS se propõe fazer com a "novela" da Caixa Geral de Depósitos: um "spin-off" da comissão de inquérito original, aproveitando o potencial das personagens encarnadas por Mário Centeno e António Domingues. Tendo em conta a vocação das audiências para tudo o que se relacione com espiolhar o que à partida é pessoal e privado, é bem provável que a comissão cujo objetivo é publicitar SMS venha a ter um "share" bastante mais elevado do que a original, que pretendia apurar as maçadoras razões para o colapso do banco público. Nesta cuidadosa gestão do mercado televisivo e mediático, PSD e CDS propõe-se até suspender a série original, pelo menos até que cheguem os documentos em que hão de constar os nomes dos caloteiros que levaram a CGD ao abismo e os contribuintes ao desespero. Se a papelada não chegar, anula-se simplesmente a próxima temporada. O mais provável é que a audiência entretanto se esqueça, entretida que andará com o "spin-off" ou outra novela qualquer.
2. É uma espécie de desígnio nacional e resume-se numa palavra que parece um trava-línguas: procrastinar. E é uma das atividades mais acarinhadas pelos nossos deputados. Que melhor exemplo do que a alteração à lei eleitoral autárquica, em discussão quando faltam poucos meses para novas eleições, e portanto quatro anos depois de detetado o problema? Em causa está a tentativa de facilitar a formação de listas independentes. Acontece que o alerta foi feito por Rui Moreira e, de repente, o que se discute já não sãos os méritos da lei, mas se esta deve ou não fazer o jeito ao presidente da Câmara do Porto. Sendo que, para envenenar ainda mais o ambiente, o posicionamento dos partidos varia consoante a proximidade a Rui Moreira. O CDS, que o apoiou e integrou as listas, entende que os nomes da lista de independentes podem ser todos alterados, entre o momento da recolha de assinaturas e a formalização da candidatura, com a exceção do cabeça de lista. O PS, que formalizou um acordo pós-eleitoral e renuncia agora a uma candidatura, aceita que sejam alterados metade dos nomes. O BE, uma espécie de aliado preferencial dos socialistas, aceita a mudança de um quarto dos nomes. O PSD, como é natural em algo que diga respeito a "ceder aos caprichos" de Rui Moreira, é contra. A procrastinação deu lugar a uma trapalhada. Não é caso para se ficar surpreendido.
*EDITOR EXECUTIVO