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O processo dos Anjos, o seu pedido de indemnização a Joana Marques, as crises de acne, as intervenções da sua advogada e o circo mediático que montaram, é patético e de uma falta de inteligência que assusta. Os irmãos arriscaram a carreira sem que ninguém que lhes esteja próximo os tenha conseguido ou querido travar, dá pena.Há uns dias, foi divulgada uma fotografia em que os Anjos estão a cantar para meia dúzia de gatos pingados. O cenário é devastador, mas vemo-los a saltar em palco e a dar o litro, não deixa de ser bonito e uma prova de profissionalismo. A imagem circulou e milhares de partilhas foram feitas. Inventaram-se novas anedotas, criaram-se memes e o bar esteve aberto para quem quisesse dar mais um pontapé ou humilhar mais um bocadinho um par de Anjos agonizantes e já sem asas.Não sou moralista, estou longe de o ser, mas assusta a orgia de que parecemos depender para estar bem. Adoramos quando alguém mergulha no lodo. Gostamos de os ver chafurdar, queremos que paguem o preço, que sofram, que tenham vergonha, que sejam achincalhados e nos desapareçam da vista. É como se sentíssemos que foi feita justiça, uma justiça popular e poética. Vê-los a cantar para uma praça vazia nos arredores do Porto libertou a raiva de muita gente sempre pronta a atropelar os que já estão no chão. A culpa é dos Anjos, verdade. Mas é também nossa. A maldadezinha dá-nos cor à vida, raramente pensamos no sofrimento de alguém que é concreto. Detesto os Anjos, mas a volúpia do mal deprime-me.