Portugal vive um ciclo único em matéria de criação de emprego, paz laboral e redução do desemprego. Trata-se, por isso, do pior momento para mexer na legislação laboral. António Costa tem o dever patriótico de resistir ao ultimato populista do PCP e do Bloco. Se ceder, será o princípio do fim.
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Menos de 8 por cento de taxa de desemprego em dezembro (o melhor registo dos últimos 15 anos). Mais de 170 mil novos postos de trabalho criados em 2017. O ciclo com menor número de greves e pré-avisos de greve das últimas décadas. PIB e salários em crescimento. Paz social e bom clima laboral. Não vivemos num mundo perfeito, mas já estivemos incomparavelmente mais longe. Mesmo um problema grave como o da falência da Ricon é mitigado pela recolocação quase imediata de grande parte dos ex-trabalhadores daquela fábrica. Haverá, tanto quanto se sabe, emprego para todos os que pretendam trabalhar.
É certo que o desemprego jovem teima em não descer, sendo que tal se deve fundamentalmente a opções erradas no domínio da formação. Não há falta de trabalho. A oferta existe. O que não há é candidatos com as qualificações técnicas adequadas às vagas disponíveis. As empresas precisam de soldadores, de torneiros e de eletricistas que o mercado não tem e que o ensino técnico-profissional, infelizmente pouco expressivo, ainda não formou.
A economia quer criar mais emprego. O Dinheiro Vivo fez um excelente levantamento e detetou as necessidades: 28 mil vagas na metalomecânica, 7 mil no têxtil, 1,5 mil no calçado, 60 mil na construção civil e mais de 40 mil na hotelaria e restauração. São perto de 150 mil ofertas de trabalho. Sendo preenchidas, a taxa de desemprego cairá abaixo dos 5 por cento.
Perante este quase pleno emprego e face a uma economia que funciona, PCP e Bloco exigem que o Governo mexa no código do trabalho e reverta medidas (moderadas, equilibradas e que permitiram que agora se crie emprego) tomadas nos anos da troika. A irresponsabilidade do discurso assemelha-se a uma competição entre suicidas. Regresso aos 25 dias de férias e a um salário de indemnização por cada ano de trabalho (Jerónimo). Aumentos para as horas extraordinárias e fim à caducidade na contratação (Catarina). O tom é de chantagem. Chegamos ao último ano da legislatura e as reivindicações passam a ultimato.
António Costa tem muito mérito na recuperação económica, no aumento da produção nacional e na criação de emprego. Se ceder aos radicais, António Costa deitará fora tudo o que as empresas, os trabalhadores e os empresários conseguiram. Tudo, e é muito, o que o país conseguiu.
* EMPRESÁRIO E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO