Continuidade e estabilidade. Foram as palavras-chave do primeiro-ministro para justificar as suas escolhas para as pastas das Infraestruturas e da Habitação. Preferiu gente já tarimbada na resolução de problemas, num período em que, como ele próprio disse, há muitos milhares de milhões de euros para gastar com toda a rapidez. Seja na ferrovia, que atribuiu a João Galamba, seja na habitação, que fica para Marina Gonçalves.
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Mas essa é apenas uma versão da história. A outra é que, apesar de ter uma maioria absoluta, que lhe garante maior liberdade de escolha; apesar de tantos estarem à espera que fosse capaz de olhar para lá das fronteiras partidárias, incluindo o presidente da República; António Costa não quis (ou não conseguiu) ter esse golpe de asa, optando por se refugiar nas trincheiras socialistas, promovendo duas figuras profundamente ligadas ao aparelho partidário (e governativo).
Se Costa consegue a estabilidade que lhe escapa por entre os dedos praticamente desde o primeiro dia deste Governo (já são 11 demissões em nove meses), o tempo o dirá. Já quanto a continuidade, não podia ter sido mais certeiro. Porque os sucessores de Pedro Nuno Santos quase poderiam ter sido escolhidos por... Pedro Nuno Santos.
Desde logo Marina Gonçalves: foi assessora do então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, quando Pedro Nuno foi um dos principais pilares da geringonça que garantiu um projeto político que durou de 2015 a 2019. E foi depois chefe de gabinete do ministro das Infraestruturas, até ser escolhida por este para secretária de Estado da Habitação.
Quanto a João Galamba: ainda que seja já um veterano do Parlamento (foi eleito pela primeira vez em 2009, ainda ao tempo de José Sócrates) ficou no léxico político como um dos elementos dos "jovens turcos" da ala esquerda do PS (os outros eram Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro e Pedro Delgado Alves) que ajudaram Costa a derrubar Seguro e a chegar ao poder.
Como se diz na frase de Giuseppe Tomasi di Lampedusa ("O leopardo"), "tudo deve mudar para que tudo fique como está".
*Diretor-adjunto