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O presidente da Câmara de Lisboa passou a ter um espaço político relevante mais pequeno por ter deixado que o apontassem como alternativa a António José Seguro sem lhe garantirem os apoios suficientes no interior do Partido Socialista. Sobretudo sem lhe garantirem que esses apoios seriam exclusivamente seus e não apenas emprestados por um conjunto de dirigentes e militantes cujo desígnio essencial parecia ser muito mais o de reaver poder do que propriamente o de debater ideias e programas políticos comuns.
Em tudo na vida ajuda ter um grãozinho de sorte e Seguro teve o seu. Na exata medida em que António Costa é um analista político de primeira água (sempre se distinguiu por essa capacidade, muito antes do sucesso na Quadratura do círculo, o emblemático programa da SIC) e elencou todos os perigos. Por ordem decrescente: os seus apoiantes, em esmagadora maioria fervorosos do ausente Sócrates, muito provavelmente não chegavam para vencer Seguro no próximo congresso; a errada leitura de que teria chegado o "timing" do Governo cair por efeito de objetivos falhados, curiosamente alimentada por declarações do próprio Seguro, mas que o famoso regresso aos mercados tornou inviável pelo menos em termos de calendário e planificação da luta político--partidária de curto prazo.
Agora, à distância, até parecerá que o erro de leitura de Seguro poderá, afinal, ter sido uma genial jogada: proclamando a aceleração dos calendários terá forçado os seus adversários internos a errar. A ponto de lhes tornar o futuro muito mais difícil, pelo menos enquanto grupo organizado. Com efeito, não se vê como as reuniões entre Seguro e Costa, que ambos têm designado como programáticas, possam redundar numa disputa eleitoral direta. Pelos motivos atrás enumerados, mais um: nada permite a ninguém ler a atualidade política como de pré-crise governativa. Ao invés do que alguns comentadores políticos andaram a repetir, nem o CDS se divorciará a propósito da sua bela adormecida, a RTP, nem o défice entrará em delírio demencial.
Só o desemprego, já acima da meta estabelecida para o ano, e as falências das pequenas e médias empresas continuam a ameaçar os objetivos deste Executivo, mas estas são circunstâncias sociais que demoram o seu tempo (e não é pouco!) a transformarem-se em fatores geradores de alterações políticas e eleitorais.
Porém, ao permitir que as coisas fossem tão longe quanto foi possível (tele)ver, o presidente da Câmara de Lisboa perdeu o espaço de uma eventual candidatura a primeiro- -ministro: agora, para ser líder do PS só correndo mal a Seguro as próximas eleições autárquicas e se isso vier a acontecer então será por não se produzir o efeito negativo da governação, tão aguardado por alguns dirigentes socialistas locais.