Chegou outra vez a hora de glória de dez milhões de treinadores. Claro que o Portugal que trabalha, preocupado com o futuro do euro (que é agora o nosso escudo) e com o amanhã dos filhos e netos (em tempo de exame), não tem muito tempo para isto. Mas é o Campeonato do Mundo mais maçador da história?
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Sim, para quem tenha memória curta. Pouquíssimos golos, equipas maciçamente à defesa, jogos de empata, quedas por tudo e nada, sempre na mira de penalidades. Ou verdadeira selvajaria nas entradas e cortes, sem atenção à vida e à honra do outro.
Nos foros "especializados", culpa-se a bola. Inventada pela universidade de Loughbrough, na Inglaterra, a patente foi vendida à Adidas, como em 2006 e 2008 preferida pela FIFA. Os concorrentes derrotados, e os outros fabricantes, dizem que a "Jabulani" é demasiado redonda, leve e imprevisível, e que obriga a uma habituação prolongada.
Curiosamente, a equipa que se tem queixado menos - e jogado melhor - é a Alemanha, com jogadores praticamente todos do mesmo campeonato nacional, o único do Mundo que introduziu, a tempo, este esférico.
Por que é que as federações não insistiram em que o instrumento de trabalho fosse o mesmo, em todos os países?
Depois há as vuvuzelas. O barulho infernal impede a concentração, os cânticos populares, o drama dos aplausos e arrepios das massas. O impecável organizador sul-africano, Danny Jordan, dizia-me que temia este efeito ensurdecedor. Mas é um dado, e não há que chorar sobre o assunto. Porém, talvez se possa recomendar o uso moderado.
Por fim, chegam os factos. Os minúsculos países do futebol aprenderam a lição. E começaram a jogar. Pode ser irritante, mas não há mais goleadas e humilhações. Ainda bem: os grandes têm de mostrar a qualidade dentro do campo. Por outro lado, é impressionante ter um campeonato na pior fase física dos jogadores, em vez de na melhor.
E a partir do momento em que o jogo passou a negócio, e os jogadores a objectos valiosos segurados, morreu a magia. Já não se parte para a selecção como se embarcássemos na aventura. Mas é assim há décadas.
Claro que o que actua quase por frete torna-se notado. Quem paga são os adeptos desencantados.
Mas, com todos os esqueletos nos armários e fraquezas, este continua a ser o melhor espectáculo da humanidade.
Potencialmente.
