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A minha aventura gastronómico-histórico-ambiental na Afurada não se circunscreveu à arrozada de marisco e à descoberta do Centro onde se conta a vida e a evolução do seu território. Alargou-se a algo que, desde há anos, me desafiava, na lonjura vista de uma varanda. Refiro-me à Reserva Natural Local do Estuário do Douro, classificada pelo D.R. de 12/2/2009.
Foi milagre, quase inimaginável, proteger 62 hectares até aí votados ao campismo selvagem (com estacionamento equivalente), ao vale tudo em matéria de lixo, depósitos ilegais, desprezo pela natureza e praia de banhos à pai Adão. E transformá-los numa paisagem de tranquilidade, quase silêncio e respeito pela integridade ambiental de uma frente costeira onde o mar bate, uma restinga dunar a que chamamos, há séculos, “Cabedelo” e uma zona interior onde vemos o estuário do rio, incluindo um sapal.
Tudo isto, pelo que observo da minha varanda, cuidado e respeitado. Nem há campismo selvagem, nem pesca ou caça clandestinas, nem banhistas (como fazíamos nos tempos da outra senhora) domingueiros, idos da Cantareira a apanhar sol naquilo que, no fundo, era um santuário de fauna e vegetação, deveras desprezado. Se calhar, estou a ver a paisagem com óculos demasiado optimistas, mas a verdade é que, de longe ou de perto – basta lá ir e estacionar, como mandam as regras – esta Reserva é uma sedução, através de passadiços, percursos sinalizados e um centro interpretativo que explica o que se pode encontrar.
E como ainda acredito nestas coisas, faço o convite para que visitem um exemplo do país civilizado. Ao pé da porta.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia