Apaga a luz e não faças barulho
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Para um problema complexo - como o da definição do preço da eletricidade e das suas infindáveis cambiantes - não há uma resposta simples. Razão pela qual seja arriscado vaticinar quem fala verdade no arrufo entre Governo e Endesa. Talvez porque ambos tenham razão. A fatura da luz não deverá aumentar já, pelo menos até ao final do ano para os contratos antigos, mas o mais provável é que, num futuro próximo, o preço suba para consumidores e empresas, quando forem negociados novos contratos. O famigerado mecanismo de compensação criado para proteger Portugal e Espanha da subida do valor do gás natural que é utilizado para a produção de eletricidade tem a virtude de controlar a escalada de preços no imediato, mas é ainda cedo para percebermos de que forma as compensações devidas às centrais a gás vão ter um reflexo nos preços finais a médio prazo. E depois não podemos esquecer-nos do efeito-dominó causado pela seca extrema que atinge a Península Ibérica, o que obrigará certamente os fornecedores a recorrer mais ao gás natural. Donde, a fatura subirá.
De uma coisa, porém, podemos estar cientes: muito dificilmente voltaremos a pagar amanhã o que pagamos hoje pela energia que gastamos. E esse é o debate essencial que devíamos estar a patrocinar, em vez de fomentarmos absurdas guerras de gabinete que o maltratado contribuinte não alcança.
O Governo quis dar um sinal de força ao mercado, depois do alarme desproporcionado das declarações de Nuno Ribeiro da Silva (a imagem do secretário de Estado João Galamba a controlar faturas da Endesa não deixa de ser um pouco risível...). Fê-lo, também, numa inteligente jogada de antecipação para mitigar eventuais danos sociais e económicos decorrentes de uma atualização de preços no arranque do ano, lançando já o odioso sobre os tubarões da energia. Xadrez político, portanto.
Porém, isso não invalida que o mesmíssimo Governo faça acompanhar essa estratégia de uma campanha pública esclarecedora que responda à seguinte pergunta: de que forma estamos a preparar-nos para travar os exageros dos operadores, limitando os nossos consumos coletivos? Ao contrário do que possa parecer, isso não seria um sinal de fraqueza, mas de força, perante os especuladores.
*Diretor-adjunto