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A semana terrível que agora finda, em que o pior que podíamos esperar aconteceu, provoca em nós um sentimento de impotência, de revolta e até de alguma incredulidade. A expiação da culpa, sempre que o verão faz trepar as temperaturas e as chamas devoram, insaciáveis, a floresta, assume o protagonismo do debate, e acabamos por ver refletida nessa recaída coletiva as imagens baças de Pedrógão. Estará Portugal condenado a aceitar os fogos como uma fatalidade estival? Há cinco anos, enterramos dezenas de vítimas, o país condoeu-se, gerou-se uma onda de compromisso público e político, alteraram-se leis, mexeu-se nos dispositivos de combate, lançou-se uma batelada de dinheiro para cima do problema, que é o que fazemos sempre que queremos resolver um problema. Mas em 2022 o barril de pólvora voltou a rebentar-nos nas mãos. Temos uma das maiores áreas ardidas da Europa, registamos milhões de euros de prejuízos, perderam-se casas, empresas e culturas, contamos quase duas centenas de feridos. E um jovem piloto morreu a combater o fogo.
Nada disto, porém, nos surpreende. Porque quem anda pelo país como turista já percebera há muito que o propalado ordenamento do território e a limpeza das matas não tinham passado de adornos discursivos; que continuamos, no essencial, entregues à bondade da máxima "há de correr melhor este ano, se Deus quiser". Mas não correu. E a seca profunda que comprime o território, agravada pelas alterações climáticas, transformou os maiores medos numa tempestade perfeita de calor.
O clima explica uma parte das chamas, mas não todas. Se estamos mais avisados, se gastamos mais dinheiro na resposta operacional, então tudo se resume a isto: não sabemos aplicar devidamente os recursos e os meios. No fundo, continuamos desorganizados, mas cheios de boa vontade e patriotismo. Somos, desgraçadamente, apagadores de incêndios.
Diretor-adjunto