A praga dos chamados swaps, contratos de risco teoricamente destinados a cobrir riscos supervenientes, porventura maiores do que de anteriores contratos, tem toda a aparência de traça. O aspeto da traça é inofensivo: o tamanho pode variar entre seis e 20 milímetros, tem asas e a sua cor é parecida à da palha. Porém, os seus ovos, uma vez chegados ao estado de larvas, podem produzir pragas destruidoras de tudo quanto seja trapinho, do mais pobre paninho de limpar o pó ao fato de cerimónia mais requintado.
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Há duas formas conhecidas de impedir que a traça destrua tecidos, peles, couros, enfim, o recheio em têxtil de uma casa: a preventiva, que reside em lavar meticulosa e frequentemente tudo quanto é recanto que possa esconder larvas, acompanhada do uso de mosquiteiros em janelas e portas para lhe barrar o voo; e a curativa, que requer uma desinfestação.
Como com as traças, as forças políticas que se debatem com os swaps na esfera do Estado (único sítio em que as pragas nos interessam a todos por óbvia requisição dos impostos que pagamos mas para ter saúde, educação, justiça, etc., etc.) deveriam ter utilizado o método preventivo.
Porém, a cada capítulo acrescentado à saga dos swaps, vamos percebendo que houve demasiados desleixos para que a praga pudesse ter sido evitada.
Estamos, assim, chegados à necessidade de desinfestar a nossa casa comum, o Estado, da praga dos swaps, originariamente tão inocentes quanto uns minúsculos insetos cor de palha que voam como todos os outros.
Uma desinfestação destas deveria estar incluída na lista de calamidades em que, por razões de regime, caberia aos principais partidos entenderem-se para limpar a casa.
Infelizmente não é isso que está a acontecer. Porque há lógicas instaladas na política que, de algum modo, são idênticas à da traça: inocentes, silenciosas, dissimuladas e indiscriminadamente destrutivas.
Mas bem podem as forças políticas dominantes apostar ganhos relativos, inundando o espaço mediático com o seu capital de queixas recíprocas, que os portugueses nunca entenderão como é que a sua casa comum, o Estado, foi incapaz de negociar por cada um de nós aquilo que é de todos nós e que nós
[alguns de nós, para ser mais exato] colocamos à guarda dos nossos eleitos.
Ao que nos dizem, a lista está feita e o grau de toxidade de cada contrato de risco tecnicamente determinado. Por isso, o natural seria que essa lista fosse investigada e a justiça chegasse às suas conclusões.
Mas não parece que seja à desinfestação da traça instalada no Estado que estejamos a assistir. Talvez seja ao estranho modo de apanhar moscas praticado pelas nossas aldeias : corta-se o gargalo ao garrafão, verte-se uma porção de água e enfia-se-lhe um rabo de bacalhau.