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Foi mesmo isso. Os portugueses, bem como os restantes europeus, estavam à espera que o Banco Central tomasse uma decisão mais drástica em relação às subidas das taxas de juro. Em vez de apertar todo o parafuso, resolveu deixar uma folga e pressionou apenas metade, aumentando as taxas de juro em 0,25 pontos para 3,75%, apesar de bater o recorde desde a crise financeira de 2008. Christine Lagarde, com aquele seu discurso duro de anunciar que não haverá alívio para as famílias portuguesas, mostrou afinal alguma moderação no aperto da política monetária.
Com os preços ainda distantes das metas de inflação, com efeitos palpáveis?na desaceleração económica e na queda do crédito, a presidente do BCE preferiu tirar o pé do acelerador e propor uma subida mais lenta dos juros.
Apesar de tudo, a persistência de uma alta inflação choca com a necessidade de modular os efeitos das taxas de juro no crescimento dos países da zona euro, bem como na estabilidade dos bancos, que acusaram estas subidas das taxas de juro à bruta e que rapidamente fizeram lembrar a experiência de 2008, quando a alta dos juros acabou por explodir um sistema financeiro excessivamente endividado e com ativos duvidosos.
É verdade que um aumento mais agressivo das taxas de juro por parte do BCE no ano passado não se deveu só à inflação. O Banco Central Europeu foi quase obrigado a acompanhar os norte-americanos, para evitar uma depreciação do euro em relação ao dólar. Com a guerra da Ucrânia em curso e um aumento exponencial dos combustíveis, a Europa não tinha outra saída, até porque estas matérias-primas são pagas em dólares nos mercados internacionais. Tudo o que não se queria era um euro enfraquecido em relação ao dólar.
Agora que existe uma descida e estabilização dos preços dos combustíveis, a decisão do BCE é a mais correta, porque aponta para alguma moderação face à evolução dos preços e aos seus amplos efeitos no crescimento económico e nos rendimentos das famílias, que viram os seus empréstimos à habitação crescer exponencialmente e, por consequência, uma diminuição do consumo doméstico face ao aumento dos preços.
Editor-executivo-adjunto