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A recente eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América levantou um coro generalizado de indignação. Deixando aqui expresso o meu registo de interesses da dificuldade, ou mesmo impossibilidade, que teria em votar num candidato tão excêntrico, também não alinho no registo dramático da desgraça liderado por um certo "complexo de uma Esquerda" que se acha dona universal da inteligência e da forma de estar em democracia. O voto só é sensato se de acordo com os seus princípios e interesses, caso contrário não deve ser respeitado e, como muitas vezes acontece, combatido de qualquer forma e feitio.
Nestas alturas é sempre importante relembrar as palavras de Churchill sobre a democracia ser a pior forma de governo conhecida, à exceção de todas as outras que têm sido experimentadas de tempos em tempos.
Esta suposta "elite de Esquerda inteligente", toda ela em conjunto, parece que viu um dia a luzinha que lhes indica o caminho único. E daí que, ou o voto está de acordo com o seu registo de interesses, ou então tudo está mal e tem de ser combatido, seja na rua, na Assembleia, ou a interromper e insultar governantes, tudo vale e é democrático, porque quem votou não sabia o que estava a fazer. Sim, porque para estas pessoas, o melhor argumento contra a democracia é sempre obtido a partir da especulação desenvolvida no âmbito de uma qualquer conversa de cinco minutos com um eleitor mediano.
Por mim não alinho neste frenesim de pré-anúncio da desgraça apenas e só porque o voto de mais de 120 milhões de pessoas não coincide com o meu ponto de vista. Porque cada pessoa é um valor sagrado e a liberdade da sua decisão pessoal também. Por isso, já há muito perdoei aqueles que destilavam ódio a quem não seguia a sua cartilha esquerdizante, defendendo publicamente castigos hilariantes para os desalinhados. E alguns, pasme-se, fizeram e fazem agora parte de governos democraticamente eleitos.
Os Estados Unidos da América são um país que tem dado ao Mundo grandes exemplos de democracia e de capacidade de enfrentar e superar problemas. Passaram ainda poucas dezenas de anos para que nos possamos esquecer, citando de novo Churchill, que nunca tantos ficaram a dever tanto a tão poucos. Saibamos por isso respeitar a democracia e a soberana decisão do povo americano.
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO