Não há como negar que o desempenho da economia portuguesa, no primeiro trimestre do ano, foi surpreendente. E muito positivo. Apoiado, sobretudo, nas exportações de serviços, mas também nos bens transacionáveis, o PIB cresceu 2,5% face ao período homólogo, levando o FMI a apresentar uma previsão bastante mais otimista para o resto do ano (2,6%), do que aquela que havia lançado há cerca de um mês.
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O que estes indicadores mostram, desde logo, é que apesar de toda a turbulência política em que vivemos, do escasso investimento do Estado, da voracidade fiscal com que empresas e cidadãos são tratados, da falência dos serviços públicos, há um país que continua a trabalhar e a produzir. É a esse país que devemos agradecer os bons resultados obtidos e o facto de ainda não termos sido inapelavelmente ultrapassados por todas as economias da União Europeia.
É lamentável, mas justo, dizer que este Governo tem feito muito pouco para que estes meios sucessos sejam alcançados. Além da conhecida aversão às políticas reformistas, todas as grandes opções estratégicas seguidas nos últimos sete anos - desde a devolução de rendimentos da geringonça, ao corrente PRR - têm sido dirigidas, no essencial, à máquina do Estado e ao reforço das prestações sociais. A economia e as empresas entram poucas vezes no léxico governativo e, quando entram, é normalmente por maus motivos, seja para castigar os "lucros excessivos" da distribuição, legislar sobre questões laborais ou engavetar qualquer tentativa de reduzir o IRC.
O problema é que, sem reformas - sobretudo fiscais e judiciais -, com os níveis de investimento público historicamente baixos e sem estabilidade nas políticas adotadas, nada de estrutural irá mudar na nossa economia. Vamos continuar a ser um país atrasado, com salários baixos e pouco competitivo. Apesar de tudo, as empresas ainda não conseguem operar milagres económicos.
P.S. Oito anos depois, um conjunto de "personalidades" volta a pedir que não privatizem a TAP. Mas parece que são apenas 25, quando, nos bons tempos da troika, o grupo tinha mais de 60 membros. Este número de aderentes é proporcional à perda de valor desta companhia aérea.
*Presidente Associação Comercial do Porto