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Se quiséssemos brincar ao jogo das diferenças, o desafio seria demasiado fácil. No Reino Unido, o regulador financeiro chamou os bancos e impôs um prazo para que subam os juros dos depósitos. Caso contrário, tomará “medidas robustas” até ao fim do ano. Por cá, o governador do Banco de Portugal mostra-se complacente com a banca e com os lucros pornográficos que está a acumular por via da brutal diferença entre a taxa que cobra pelos empréstimos e a que paga nos depósitos. Para Mário Centeno, importa “acima de tudo uma banca sustentável”.
Em julho, a Financial Conduct Authority (FCA) do Reino Unido convocou os líderes dos grandes bancos. Numa altura em que “muitas pessoas sentem o aperto das taxas de juros e do crescimento dos preços é mais importante do que nunca que sejam oferecidas taxas de poupança justas e competitivas”, alegou o regulador. O diálogo foi “construtivo”, mas insuficiente, pelo que a FCA marcou nova reunião e desta vez estabeleceu um plano de 14 pontos para forçar os bancos a remunerar adequadamente os aforradores. Ao mesmo tempo, fixou até ao fim de agosto o prazo para as instituições mudarem de rumo ou justificarem que as taxas que praticam são “um valor justo”.
Esta atitude firme contrasta gritantemente com a tibieza do Banco de Portugal (BdP). Centeno até reconhece que há “margem para subir” as taxas dos depósitos, mas defende que não se pode “empurrar a banca”, pois o mais importante é que se mantenha “sustentável”. Ora a sustentabilidade da banca não está em causa. Os lucros dos cinco maiores bancos que operam em Portugal (CGD, BCP, Santander, Novo Banco e BPI) aumentaram 58% no primeiro trimestre deste ano face ao período homólogo de 2022. Foram quase dois mil milhões de euros em seis meses, qualquer coisa como 11 milhões por dia. E isto foi conseguido também porque a banca portuguesa remunera os depósitos muito abaixo da Zona Euro.
Uma vampirização de milhões de portugueses que não parece impressionar o governador do BdP, ex-ministro das Finanças de Costa. Nem o Governo, bem pelo contrário, que não só não toma medidas musculadas para impor a subida das taxas de juros dos depósitos, como até cedeu aos interesses da banca e baixou a rendibilidade dos certificados de aforro, prejudicando aqueles que ainda conseguem poupar na atual crise inflacionista.