As eleições realizaram-se no dia 6 de Maio e, passado uma semana, os ingleses tinham um governo de maioria. David Cameron ganhou as eleições sem maioria absoluta e em 48 horas concebeu uma coligação com os liberais-democratas, formando um governo maioritário.
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O Reino Unido não tinha um governo de coligação desde Churchill que, em plena guerra, o fez face à dramática situação que se vivia no seu país e no Mundo. Agora que a Europa, incluindo obviamente a Inglaterra, vive uma situação não de guerra mas de plena crise económica e financeira sem precedentes, os ingleses, pragmáticos e com um enorme sentido de Estado, encontraram rapidamente uma solução governamental que lhes permita estabilidade.
David Cameron podia ter formado um governo minoritário conservador. A democracia inglesa permite-o. Mas optou por uma solução estável e espantou o Mundo. Não só fechou com rapidez as negociações com os lib-dem, como apresentou governo, escolheu ministros e começou imediatamente a governar. Quando os comentaristas e jornalistas previam demoradas negociações entre os dois partidos, não só chegaram a acordo em escassas horas como criaram uma comissão bipartida para resolver potenciais divergências. Em menos de nada, Cameron entrou no n.º 10 e começou a governar o Reino Unido.
Com um discurso notável e directo, apresentou-se ao país com uma equipa governamental fechada, com as pastas partilhadas entre os dois partidos, constituída por gente jovem e com um discurso sério e um projecto para enfrentar a crise. Falou consciente da situação dramática vivida e fez passar a mensagem que os interesses da Inglaterra estão acima de tudo o mais. Começou por anunciar que o seu governo vai de imediato apresentar ao Parlamento um orçamento de emergência.
Será que em Portugal nos apercebemos do que aconteceu? Nós que levamos semanas a formar governo, a dar posse ao governo, a conhecer os ministros, e eles a começar a trabalhar, e que insistimos em governos minoritários mesmo depois do desastre do governo Guterres - pelo qual continuamos a pagar facturas.
David Cameron, de 43 anos, não é o tradicional líder conservador. Nick Clegg, também de 43 anos, não é igualmente o tradicional social-democrata. Mas o que mais me impressiona neles é a eficácia com que encontraram uma solução política e com que formaram governo.
Em Portugal, uma semana depois das eleições, nada estaria resolvido e muito menos formado, com este sentido prático, um governo de coligação. Teríamos, sim, toda a gente horrorizada com a hipótese, gritando "nunca um governo de bloco central de interesses". Foram assim baptizados por uma Esquerda que só luta para impedir qualquer solução governamental estável que faça o país enfrentar a situação gravíssima que se vive em Portugal.
Fez bem Pedro Passos Coelho em viabilizar as medidas de urgência e forçar o Governo a outras, nomeadamente no campo da despesa. Mas não chega. É preciso encontrar uma solução governamental estável que permita reformar o Estado naquilo que o próprio Pedro Passos Coelho referiu no Congresso do PSD. É igualmente necessário rever a Constituição para permitir reformar o Estado em áreas tão vitais como a Justiça, a legislação laboral, o Ensino, a segurança e defesa nacional, por exemplo. Mas isso só se consegue com uma solução estável, um governo de coligação maioritário.
Será que não podemos olhar para a Inglaterra e aprender com eles? Olhar para a eficácia e a rapidez com que encontraram uma rápida solução governativa e tirar as ilações dos factos. Mas, já agora, podíamos também fixar aquele gesto diferente do conservador David Cameron que, acabado de chegar a Downing Street e por cima do protocolo, saiu e foi abrir a porta do carro à mulher (grávida). Há gestos que marcam um estilo mais que as palavras.