Independentemente da complexidade do dossiê BES-Novo Banco, não é aceitável que o relatório (preliminar) da comissão de inquérito ao maior escândalo financeiro em Portugal tenha 400 páginas, 100 conclusões e 10 recomendações.
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E ainda estamos no princípio, porque os partidos irão acrescentar dezenas de propostas à enciclopédia. A não ser que o objetivo, não declarado, seja esse: complicar para dificultar. Depois, ao lermos as conclusões do documento da autoria do deputado socialista Fernando Anastácio, percebemos que os governos foram ilibados de responsabilidades.
O de Passos Coelho, que decidiu a resolução do BES (com os resultados que se conhecem); o de António Costa, que decidiu a venda do Novo Banco à Lone Star (com os resultados que também se conhecem). Sobraram as críticas duras ao Banco de Portugal (justíssimas), a Bruxelas (justíssimas) e aos maiores devedores (justíssimas).
Mas a política boa, que foi determinante para elucidar o país sobre as figuras e as práticas que levaram à ruína do banco e de uma parte considerável das contas públicas, começa, agora, a dar lugar à política má, da partidarite aguda, do ajuste de contas com o passado e da medição estéril de culpas. Com esta comissão de inquérito, o Parlamento, demasiadas vezes contaminado pelos chavões que enfermam a boca do senso comum, deu uma prova da sua importância e poder fiscalizador. Vimos bons deputados em ação, com as prioridades afinadas e as perguntas certas.
A narrativa, com mais ou menos detalhe, está instalada há muito: Ricardo Salgado não atuou sozinho, fê-lo amparado em interesses vários, donos de múltiplas coisas, mas ninguém viu nada. Só quando a bomba rebentou no nosso colo é que se ouviram suspiros.
Ora, importa agora que se olhe para o que podemos aprender, mais do que relevar as virtudes da catarse: aprimorem-se as práticas bancárias e as medidas restritivas do regulador, fechem-se as portas giratórias que vivem das correntes de ar do regime, mas façamos os possíveis para manter no patamar da dignidade e do exemplo público o lugar que o Parlamento, e os deputados, podem e devem ocupar em comissões futuras. Aprender com os erros aprendendo com os egos.
*Diretor-adjunto