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De cofres a abarrotar, a Arábia Saudita decidiu investir mundos e fundos no futebol. Depois da aquisição do Newcastle (Inglaterra) em 2021, o Fundo Público de Investimento comprou os quatro principais clubes do país - Al Nassr, Al Ittihad, Al Hilal e Al Ahly - e abriu-lhes a torneira dos milhões. Com isso conseguiu juntar a Cristiano Ronaldo novas estrelas, umas mais novas que outras. Benzema (ex-Real Madrid), Rúben Neves (ex-Wolverhamton), Kanté, Koulibaly e Mendy (todos ex-Chelsea) são alguns dos jogadores que já se renderam aos milhões sauditas, assinando contratos que lhes garantem mais dinheiro do que aquele que já amealharam nas longas carreiras.
A monarquia saudita, hoje liderada pelo príncipe herdeiro Mohammad bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, viu a popularidade e influência do desporto-rei como uma excelente montra para exibir o seu poder e colocar a Arábia Saudita nas bocas do Mundo. Foi por isso que já tinha contratado Messi como embaixador do turismo, pago a peso de ouro para dar a cara em campanhas de promoção do país. E que neste verão o tentou juntar a Cristiano Ronaldo, o que teria sido um golpe de génio se o argentino não tivesse decidido prosseguir antes a carreira na também modesta liga dos Estados Unidos, aceitando a igualmente generosa oferta do Inter Miami (60 milhões de euros/época).
Mas esta audaciosa e dispendiosa estratégia das autoridades da Arábia Saudita só poderá ter sucesso se for acompanhada de uma forte aposta na base. A Liga saudita pode atrair muitas estrelas de renome, mas sem um plano específico para a formação nunca haverá um desenvolvimento real e sustentado do futebol no país. E este “El Dorado” de hoje pode vir a transformar-se rapidamente num pesadelo. Veja-se o que aconteceu na China, em que o futebol voltou quase à estaca zero, com clubes campeões a falirem e a serem extintos, depois de anos a fio a investir milhões em craques estrangeiros.
*Editor-adjunto