<p>A votação do relatório PT/TVI nos exactos termos em que ocorreu é a prova provada de que o Governo, apesar de todas as críticas, não cairá antes do segundo semestre do próximo ano. O relatório que a Oposição fez aprovar diz que o primeiro-ministro sabia do negócio, mas como não é dito que mentiu, condição posta por Passos Coelho para avançar como uma moção de censura, não tem outra consequência que não seja a de irritar Sócrates e afectar a sua credibilidade.</p>
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Este nim do PSD prova, mais uma vez, que a nova direcção social-democrata não tem pressa e aposta no desgaste do PS e de Sócrates. Não tarda, estão aí as eleições presidenciais e, ao que tudo indica, será o PSD, e não PS, a apoiar o candidato (que parece) vencedor. Com Cavaco em segundo mandato a partir de Março, chegará então a altura de provocar eleições parlamentares. Mas é óbvio que os sociais-democratas sabem que têm de chegar a essa altura ou com a garantia, ou com a quase certeza, de uma maioria absoluta, sob pena de viverem à mercê do PP (que então lhes apresentará a factura pelo desprezo a que tem sido votado) ou, pior ainda, à mercê de toda a oposição, tal como hoje sucede ao PS.
A política, porém, está longe de ser uma ciência exacta e as contas podem sair trocadas ao PSD. Não que pareça provável - ainda que nada se possa descartar - uma recuperação de imagem e de prestígio por parte de Sócrates e do PS. Mas se os piores cenários de crise se confirmarem, se o FMI nos continuar a rondar a porta como há dias ameaçou em Madrid, esta política do nim que Passos Coelho tem seguido acabará por virar-se contra ele.
A questão é que o bom início do novo líder à frente do PSD, com a apoio a medidas duras do Governo, foi visto como um gesto patriótico que o próprio aliás bem classificou, dizendo estar a ajudar o país e não o Governo. Mas, apreciado agora, à distância, esse gesto, que Passos Coelho fez a acompanhar de duras críticas ao Governo e a Sócrates, pode, afinal, ter sido o primeiro nim, o primeiro avanço e recuo de quem só quer chegar ao poder pela certa, no momento mais conveniente. Não creio que tenha sido assim, mas o PSD, na sua caminhada para retomar o poder que há muito lhe foge tem de deixar sinais claros do que pretende fazer e não proferir declarações que o obriguem depois a recuar. O PSD vem de um período de descrédito que Passos Coelho parece saber como apagar. Não se percebeu ainda o que vale a sua equipa, tudo depende ainda muito de si próprio, pelo que não pode correr o risco de passar a imagem de alguém que ameaça mas que recua na hora de cumprir essas mesmas ameaças. Ou seja, não pode correr o risco de, com tanto calculismo, o seu discurso se tornar inconsequente.