Irónico, nervoso, ameaçador, bélico, com declarações a perpassar um mau espetáculo de stand-up comedy ("Não atacámos a Ucrânia"), o experiente Sergei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros, dirigiu-se ao Mundo para alimentar a narrativa de que os EUA financiam um programa de armas biológicas na Ucrânia.
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Sabemos que à semelhança de Donald Trump, que criou a sua rede social para brincar às partilhas, Moscovo também deseja uma Internet própria para controlar e bloquear qualquer conteúdo desfavorável. Como já fazem a China e o Irão. Mas enquanto a "Runet", a tal alternativa à Internet global que começou a ser implementada em 2019, não é uma realidade, a cortina de ferro digital desmorona-se facilmente.
A narrativa química começou precisamente no dia 24 de fevereiro, quando um utilizador do Twitter escreveu que a Rússia estava a atacar sites de laboratórios geridos pelos EUA na Ucrânia. A conta foi rapidamente suspensa por desinformação verificada. A mesma teoria foi difundida por meios de comunicação controlados pela Rússia antes da invasão.
O PolitiFact, site de fact-checking, é claro. "Não há laboratórios de armas biológicas administrados pelos EUA na Ucrânia". O que existe, desde 2005, é uma parceria entre o Departamento de Defesa dos EUA e o Ministério da Saúde ucraniano para melhorar os laboratórios de saúde pública e prevenir a ameaça de surtos de doenças infecciosas.
São apenas narrativas. Como as que defendem que a guerra não começou agora, mas sim em 2014 no contexto do conflito em Donbass ou que a culpa é da NATO, EUA e UE por terem reforçado os dispositivos militares junto às fronteiras da Ucrânia.
É tempo de arrumar a "cassete" de que a culpa é dos outros. Ninguém vive numa ilha digital, ainda que as queiram construir.
*Diretor-adjunto

