<p>As boas almas andam contentes com a anunciada paz entre "operadores judiciais". Ainda bem. No fundo, o Natal está à porta. Mas os ditos agentes devem olhar para a natureza dessa trégua, e perguntar-se sobre se querem, para a Justiça, uma paz de cemitério.</p>
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Uma paz feita do distanciamento entre os tribunais e a grei, que deve servir. Uma paz feita da confusão normativa, de atrapalhação organizativa, de deficiência comunicacional.
Uma paz edificada sobre extremos: de um lado, os ronceiros interesses instalados, à beira da reforma, receosos sempre de sobressaltos na carreira, ou de quedas da cadeira. Do outro, o frenesim dos que desejam alterar leis ainda por provar, que fazem da reforma permanente uma forma de vida, que estudam na fé e realizam na dúvida.
Uma paz alicerçada nos que fazem das universidades centros de dogmática e dos tribunais núcleos de indecisão.
Uma paz que decide fechar os olhos, imaginando que assim desaparecem os fantasmas.
Uma paz que não esclarece, não explica, não simplifica, não produz luz.
Uma paz de sombras, subentendidos e meras tréguas. Uma paz que se assemelha a uma tampa frágil, mal colocada sobre uma caldeira em ebulição.
Temos de ser a favor do fim imediato de qualquer "campanha" nesta zona vital da soberania.
Se há concertação nas fugas de informação, investigue-se, ou mude-se o regime.
Se existe uma guerra em curso, sem que os beligerantes tenham coragem de a assumir, que os órgãos competentes falem, de forma exemplar e última.
Mas que ninguém se contente com uma "paz" ilusória.
Pagámos sempre caro, em qualquer domínio humano, este tipo de armistício.
1. Boas notícias no Hospital S. Francisco Xavier, no Restelo, em Lisboa: o Serviço de Urgência, que vivia em estado de emergência, regressou a uma certa tranquilidade, findas que foram as obras de beneficiação. Esperemos que haja agora, outra vez, condições dignas para todos os que honram a medicina, a enfermagem e os serviços de logística hospitalar em Portugal. Não podem continuar a ser as vítimas do mau planeamento estatal, ou do deficiente investimento público, em áreas capitais.
2. Más notícias quanto à nova igreja (católica) do mesmo Restelo. Fazer um templo em torno da figura gigantesca de S. Francisco Xavier, sábio e humanista, viandante e servo de Deus, peregrino e missionário, humilde peregrino do Oriente, parece uma ideia luminosa. Celebrar, numa igreja, a ligação portuguesa aos Descobrimentos, ao oceano e ao que estava para além dele faz sentido, e continua a tradição do Mosteiro dos Jerónimos, com as suas impressionantes colunas, inspiradas em palmeiras do Novo Mundo.
Mas este era o plano geral, abstracto. Se olharmos para os detalhes, para a maqueta que tem sido divulgada, para aquela mistura de Gaudí, de Moby Dick (ou Arca de Noé?) dourada, de janelinhas e prédios das Amoreiras, para aquele pseudominarete terminado em cruz, para as paredes verdes e vermelhas, prateadas e ocres, pasmamos.
Chamem-me, se calhar, bota-de-elástico. Mas, para mim, uma igreja católica deve ser sempre um local de recolhimento, de meditação, de paz e de elevação espiritual. Não a vejo nem como capricho, nem como espectáculo, nem como "trouvaille".
Não me interessa o nome do arquitecto, nem a sua filiação estética. O que me (pre)ocupa é o produto final. Este, lamento dizê-lo, parece mais o fruto de um pesadelo (ou de uma brincadeira) do que o filho de um sonho.