Vamos ser chamados a pagar mais impostos e com eles continuar a financiar obras públicas de utilidade duvidosa e esquemas bancários fraudulentos. Mas pelo menos teremos Orçamento.
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1.O troço da linha de TGV entre o Poceirão e o Caia vai custar aos portugueses, ao longo dos próximos anos, à volta de 2765 milhões de euros. Porque aos 1359 milhões da construção vai ser preciso somar outro tanto em contratos de manutenção, disponibilidade da linha e outras minudências que o nosso Governo se tem esquecido de valorizar. Os especialistas nestas contas acrescentam, por outro lado, que o troço da linha de TGV entre o Poceirão e Lisboa, que incluirá uma nova ponte sobre o Tejo, será ainda mais caro. Ou seja, a factura do TGV Lisboa/Madrid chegará, com toda a certeza, aos seis mil milhões de euros.
2. No ano passado, o Tribunal de Contas decidiu analisar, ao pormenor, cinco grandes obras públicas. E encontrou excelentes exemplos de grande competência a gerir o dinheiro dos portugueses. Para além de todas elas terem resvalado nos prazos - algumas só ficaram concluídas vários anos depois do que estava previsto e assinado nos contratos -, os preços dispararam. Em vez de 470 milhões de euros, o Estado, ou seja, os portugueses, pagaram 700 milhões de euros pela Casa da Música, Túnel do Rossio, Aeroporto Sá Carneiro, Ponte Santa Isabel e Túnel do Terreiro do Paço. Se esta saudável tradição da derrapagem, na ordem dos 50%, se mantiver, a factura do TGV passará, num ápice, de seis para nove mil milhões de euros.
3. Os bancos portugueses já investiram, este ano, em títulos de dívida pública nacional, cerca de 6500 milhões de euros. Já perceberam que emprestar dinheiro ao Estado, ou seja, aos portugueses, com juros de 6,2% ao ano é um negócio lucrativo. Sobretudo quando se sabe que os mesmos bancos vão buscar esse dinheiro ao Banco Central Europeu, pagando taxas de juro de apenas 1%. Noutros tempos, chamava-se a isto usura. E em tempos de crise, chegou a ser punido com a pena de morte. Mas isso era na Idade Média, também conhecida como Idade das Trevas. Nos tempos modernos e descomplexados de hoje, em que é o mercado que dita as regras, os nossos banqueiros não só não são castigados como ainda são premiados com menos impostos do que os outros.
4. A semana que agora começa será marcada por sucessivos apelos ao bom senso e ao entendimento entre PS e PSD. Suponho que, apesar das ameaças e amuos da semana passada, assim acontecerá. E seremos portanto chamados a pagar mais impostos. E com eles continuar a financiar derrapagens em obras públicas de utilidade duvidosa e esquemas bancários fraudulentos. Porque o que é importante não é ser bem governado, importante, pelos vistos, é ter um Orçamento.