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As declarações do primeiro-ministro polaco de que a Europa está em pré-guerra e de Gomes Cravinho, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, de que Vladimir Putin “não quer apenas um pedaço de território ucraniano”, mas sim “destruir” a União Europeia, veio reacender a discussão de um reforço bélico, introduzindo mais recentemente a discussão do retorno do serviço militar obrigatório.
Esta situação levou os países europeus a aumentarem substancialmente o seu orçamento de defesa. Em Portugal, houve uma ténue subida das despesas militares, que vão crescer 13,7% em relação ao ano passado, no total de 2,8 mil milhões de euros. Aliás, segundo dados da NATO, Portugal terá investido 1,48% do produto interno bruto na defesa, abaixo dos 2% exigidos. Ainda assim, é o maior investimento desde 2014, mas o país continua a ser o oitavo, em 31, com menor investimento nesta área. Com estes dados em mente, é provável que os aliados mostrem um cartão vermelho a Portugal quando se realizar, em julho, a cimeira do aniversário da fundação da NATO, em Washington. A verdade é que o contributo nacional para a NATO é baixo, pelo que, com ou sem serviço militar obrigatório, parece inevitável que Luís Montenegro apresente em outubro um generoso aumento do orçamento da defesa, não só por obrigação de ser membro da NATO, mas também face ao panorama internacional incerto em que se exige da Europa maior autonomia estratégica em relação à tutela militar dos Estados Unidos. Essa é a aposta que a Comissão Europeia lançou. Portugal deve seguir o mesmo caminho, aproveitando as oportunidades proporcionadas pelos fundos europeus para programas de defesa ou a possibilidade de o Banco Europeu de Investimento se abrir finalmente ao financiamento de programas militares. Não é com a estéril discussão do serviço militar obrigatório que vamos lá. Temos de arreganhar os dentes, com racionalização, porque não basta gastar mais, é preciso gastar melhor. E o exemplo maior é a própria União Europeia, já que investe duas vezes e meia mais na defesa do que a Rússia, com os resultados que todos sabemos. Mesmo assim, continuamos a suspirar pela Casa Branca quando a nossa segurança está em perigo.