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Por estes dias, os deputados vão ser chamados a pronunciar-se sobre uma drástica redução de freguesias em Lisboa. A capital tem actualmente 53 freguesias e só a intenção de não enveredar pelo que poderia ser considerado um tratamento de choque é que faz com que se pretenda passar para um (ainda excessivo) número de 24.
É pena, porém, que os deputados não aproveitem para uma profunda remodelação administrativa. Não são apenas muitos concelhos que têm excesso de freguesias, muitas delas entretanto sucumbindo a uma desertificação irreversível. Há também concelhos que, pela lógica, não deveriam resistir e fundir-se com os vizinhos. Uma época de crise profunda como a que vivemos, em que finalmente vai fazendo caminho a convicção de que não podemos gastar mais do que temos, é uma boa ocasião para arrumar a casa. Excesso de freguesias, excesso de concelhos significam despesa a mais, por muito bons autarcas que possamos encontrar à frente delas. É certo que não se pode defender a redução administrativa apenas numa perspectiva de redução de custos, mas sim na necessidade de servir melhor os cidadãos - núcleos mais populosos , até determinados limites, poderão aceder, por exemplo, a equipamentos que saem a um preço incomportável aos que menos gente têm. Um emagrecimento administrativo tem de derrubar muitos bairrismos, e sobretudo tem de vencer a contabilidade partidária que necessita de distribuir cargos e pequenos poderes para se manter. É por isso que os governadores civis se vão mantendo, apesar de saltar à vista a sua inutilidade - as suas funções poderiam passar para outros órgãos e a representação governamental no distrito não é necessária. A discussão vai no princípio, e mais cedo ou mais tarde uma profunda reforma chegará. Pode ser que de Lisboa surja um bom exemplo.
PS - Após as presidenciais, Paulo Portas foi lesto a reclamar uma candidatura conjunta às eleições. A pressa compreende-se. Pedro Passos Coelho continua a seguir pelo caminho correcto e não fez da vitória de Cavaco a sua vitória. O líder do PSD sabe que pode crescer e sabe que pode atingir sozinho os objectivos. Mas o pós-presidenciais também nos trouxe de volta, anteontem, no Parlamento, um Sócrates mais seguro da contenção do défice. Se as metas se cumprirem, Cavaco fica sem margem de manobra e o combate será mesmo entre Passos e o actual primeiro-ministro. Os restantes que se contentem com o espectáculo...