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Pelos anos 90 do século passado, sob a égide da CCRN, foi constituído um grupo de trabalho, integrando os ministérios ligados ao plano de inventariar, proteger e relançar as artes tradicionais, através da COMARN, ou Comissão de Apoio ao Artesanato da Região Norte.
Com a colaboração das autarquias, efectuou-se o levantamento da situação, identificando artistas e actividades. A segunda fase integrava a abertura do CRAT (Centro Regional das Artes Tradicionais), na Reboleira, em edifício cedido pela CMP, destinado à divulgação dos produtos classificados de qualidade. O modelo era o dos países escandinavos, designadamente a Suécia. No CRAT, além da promoção e comercialização das artes regionais, foram editados estudos exemplares e realizadas exposições da maior categoria. Infelizmente, como o projecto era audacioso demais, foi extinto.
Fomos agora surpreendidos pela abertura, na Rua das Flores, do "Centro de Artes e Ofícios Tradicionais". Criado pelo Grupo "Valor do Tempo", destina-se a "dar viabilidade às tradições e aos ofícios que estão na base da cultura portuguesa", na linha proposta pelo CRAT, alargada a todo o país. Mais do que atracção turística, além de ter recuperado edifícios setecentistas, o Centro é repositório de prestigiados ofícios - como a filigrana de Gondomar e os tapetes de Arraiolos - que integram um conjunto de 27 artes tradicionais ali expostas. Eis o exemplo de um serviço prestado às culturas que constroem a nossa identidade, por uma empresa privada que realiza o que competiria ao Estado: uma prática política valorizadora dos recursos nacionais.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia

