Enquanto Passos Coelho se passeia de mãos dadas com Angela Merkel pelos corredores de Bruxelas, mostrando à sociedade que o relacionamento político com a mulher mais poderosa do Mundo é à prova de revoluções gregas, a chanceler germânica continua determinada em provar que, entre o casal, é ela quem usa as calças. E vai daí toca de dar umas valentes facadas no namoro.
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Em 2014, a Alemanha foi o país que desviou mais crescimento à economia portuguesa. De acordo com o INE, foi (também) graças a Portugal que os germânicos conseguiram alcançar o maior excedente comercial de sempre.
O que quer isto dizer, afinal? Uma coisa simples: Berlim fez-nos recuar a 2008, quando importávamos mais do que exportávamos; e, em contraponto, podemos conformar-nos com a circunstância de Portugal ter ajudado a Alemanha a intensificar uma estratégia económica predadora na Zona Euro. Em que aposta pouco no investimento e no consumo (e aqui poderiam entrar as exportações portuguesas) e em que aposta muito nas exportações de mercadorias (e aqui entram os 1137 Mercedes vendidos em Portugal em janeiro, um aumento de 33% em relação ao ano passado, tornando-nos no segundo melhor mercado mundial).
Ninguém tem culpa de os alemães serem bons a vender carros e produtos farmacêuticos. É a economia a funcionar. Para um vendedor, há um comprador. Convém, todavia, não olhar para estes números com a inocência de um tolo: para haver países com superavit, tem de haver países com défice.
E Portugal, estando na cauda destes últimos, deveria, no mínimo, ter um pouco mais de pudor em alinhar tão candidamente pelo diapasão germânico. Foi a estratégia alemã, personificada pela troika, que nos empurrou para a pobreza. E agora é a mesma estratégia alemã que nos tira, literalmente, centenas de milhões de euros da boca. Mesmo assim, Portugal não se verga. O namoro político entre Merkel e Passos está para durar.
Talvez a explicação esteja na literatura erótica de pacotilha: como nas "50 sombras de Grey", Merkel é a magnata dominadora e Passos a virgem deslumbrada que gosta de jogos perigosos.
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